quinta-feira, 5 de março de 2009

Será que vocês podem me perdoar?


Desculpem por ser honesto, mas faz parte de mim não conseguir esconder o que sinto. Desculpem, também, por não ser claro. Os pensamentos não se desanuviam em minha mente com tanta facilidade quanto na sua. Não sou sempre compreensível. Me expresso muito melhor no papel do que na palavra.
Me desculpem por escrever tantas coisas que parecem heresias, mas que na realidade não passam de fruto de um relacionamento íntimo demais com meu Deus, de forma tal que tento me confundir com Ele o tempo todo (Eles um em mim, como sou um em ti)
Especialmente no que tange às diversas formas de amor, peço desculpas por ser mais tolerante com os que amam errado do que o normal. É compreensível que vocês me censurem por ter um coração grande demais, afinal, em uma visão limitada de mundo, só há espaço para os que são iguais e se vitimam em busca de atenção.
Perdão por gostar dos Beatles, e de Rita Lee também. Desculpem por ler Rousseau, Sartre, Descartes e perdão por amar a verdadeira interpretação das palavras de Nietsche. Deus morreu no coração dos homens, que preferiram erguer novos mitos para idolatrar. O “Super-homem”. Não consigo adorar homens, mas respeita-los. Não consigo apenas respeitar Deus, mas adora-lo em espírito e em verdade.
Mil perdões por eu não me adaptar à sua visão pequena de igreja. Não consigo me imaginar confinado em um cubículo para sentir a presença de um Deus que se manifesta onde quer. Respeito a instituição, mas não acredito que, em si, ela tenha muito valor. Com todo respeito, preciso discordar de sua aritmética ministerial, que privilegia meia dúzia de bajuladores em detrimento de pessoas que estão interessadas em beber de águas vivas que fluem do trono de Deus, e não de homens. Perdão se não concordo estupidamente com seus argumentos e sua falácia vazia. Não me agrada a voz doce, mas a Palavra da Verdade.
Acima de tudo, perdão por acreditar em um Deus que extrapola a sua e a minha compreensão. Perdão por que eu vejo o impossível nas pequenas coisas e gosto de ouvir, no silêncio e não na gritaria a voz de Deus e encontrar-me com ele na solidão e não na multidão.
Perdão, do fundo do meu coração, por confessar-me pecador. E mais perdão ainda por eu não ter vergonha de admitir minha séria e inexorável condição diante das pessoas, em um altar. Nu vim a este mundo e nu quero deixa-lo. Sem segredos, sem o que me esconda de Deus, sem o que me afaste da presença dEle.
Perdão por acreditar na evolução das espécies. Sei que não viemos do macaco, mas eu acredito em um Deus criativo que nos deu a capacidade de evoluir até alcançarmos a estatura de varão perfeito, que é o que Ele quer. Eu sei que é difícil, mas desculpe, também, por concordar com o Big Bang, a explosão que gerou todo o universo. No princípio a terra era sem forma e vazia e Deus fez tudo do nada, em uma explosão de amor.
Perdão por não acreditar em suas profetadas e suas palavras sem significado. Eu sei que Deus tem grandes bênçãos para mim. Bem sei que a Palavra de Deus é a melhor profecia que posso ouvir na vida e que é esperança para todo aquele que nEle crê. Argumentos, idéias vagas e pressupostos não são a palavra de Deus. Porém, uma arguta e direta interpelação, sim, por esta tenho respeito.
Perdão por não ver pecado em todos os pecados que você vê. Não sei se você entende, mas Deus está dentro de mim, e não nas roupas que visto, ou na comida que como, ou no dia que descanso. Deus transcende a realidade humana, não emana dela.
Peço, humildemente, perdão por pensar que o evangelho tem mais significado do que simbolismo e que a humanidade precisa mais de Deus do que Ele precisa dela, e mesmo assim, despretensiosamente, ele a ama como um louco. Desculpe por chamar Deus de louco, mas a sua loucura extrapola a nossa razão.
Peço perdão por não acreditar em obras como forma de salvação, mas valoriza-las como demonstração de gratidão ao nosso Deus, que fez a obra perfeita na cruz do calvário, salvando-nos e levando-nos ao reino da sua maravilhosa luz. Perdão por permitir que minha gratidão a Deus se exponha por meio destas obras. Eu sei que isso expõe o pouco que você ridiculamente finge fazer por Deus dentro de suas quatro paredes chamadas igreja institucional.
Peço perdão, por fim, por não ter certeza acerca de minha salvação, e por busca-la com temor e tremor dia após dia, lutando contra a carne, contra o mundo e contra demônios para me aproximar mais e mais do meu Criador. Perdão por querer parecer com Ele, e não com qualquer um de vocês.
Será que vocês podem me perdoar?

quarta-feira, 4 de março de 2009

Que graça teria a vida sem sorvete?


Em um dia de calor absurdo como hoje (39º aqui no centro de Santos), nada como um bom sorvete de pistache descendo ardido na garganta. Como poderia não dizer “que graça tem a vida sem sorvete?”
Sorvete é uma coisa que, em sua essência, faz um mal danado. Pura lactose, gordura e açúcar, o rei dos doces dos gordinhos, o pesadelo dos atletas (como podem ter criado algo tão bom!) ele armazena em si um exército de lipídios prontos para tomarem de assalto o corpo daquelas beldades que evitam a celulite como o diabo evita Jesus.
Mas não adianta, diante de uma casquinha saborosa só podemos dizer “venha, celulite! Pode vir! Eu não vou perder o prazer pela vida por que dizem que você faz mal!”
Temos a liberdade de escolher as celulites guardadas dentro de um sorvete de creme (ou limão, dependendo do gosto). Isto é um presente de Deus chamado “Livre Arbítrio”: a capacidade de escolher, ponderar sobre assuntos, a capacidade de pensar de forma independente e, acima de tudo, livre.
Liberdade de tomar um sorvete no calor de quase quarenta que faz lá fora, mesmo eu estando acima do peso. Liberdade de escolher a minha esposa, que Deus colocou no meu caminho e disse “vamos ver no que vai dar”, mesmo sabendo que nós seríamos felizes para sempre.
Não creio em predestinação, mas em preciência de Deus. Como se ele soubesse do que vamos fazer, mas esperasse que o surpreendêssemos o tempo todo. Afinal, não tem graça nenhuma pensar que você foi escolhido para ir ao céu ou ao inferno antes mesmo de saber escolher, e que suas atitudes e ações são reflexos de uma programação anteriormente inserida em sua mente, como na música da Pitty. (selecione o título do post)
Descobrir que somos um hardware carregando um software pré-programado me desestimulou durante muito tempo. Vi a escolha do meu sabor preferido de sorvete (pistache) como um reflexo, e não como uma escolha consciente e deliberada. E tenho visto pessoas vendendo a imagem de que nós não temos opções e que, como não sabemos qual a nossa programação, devemos agradecer por cumprir nosso papel.
Fios presos às nossas articulações, como em marionetes, nos mantém erguidos, de pé, andando para onde o sistema quer nos levar. Bonecos, massas de modelar permitindo que outras pessoas tomem decisões em nosso lugar. Fantoches seguindo conforme o status quo, querendo “aquela blusa”, “aquele tênis”, “aquele carro”. E por que permitimos isso?
Uma frase, um tempo atrás, me intrigou. “liberdade é conhecimento. Você não pode dizer que escolheu o sorvete de limão se você só conhecia este sabor”. Sem saber o sabor dos outros sorvetes, não há como dizer se gosto ou não. A consciência só vem com o conhecimento, e como diria Freud “Só o conhecimento traz o poder”.
Que poder é este de que estamos falando? Quebrar as correntes que nos prendem à predestinação, romper as cordas que nos mantém suspensos e passar a caminhar com nossas próprias pernas, escolhendo, chegando a conclusões, decidindo.
A predestinação é um conceito falho em sua essência, pois contraria o fato de que Deus quer que escolhamos, por nossa própria vontade, ama-lo. Se assim fosse, Ele saberia das nossas escolhas e das nossas tendências, e tomaria a decisão por si mesmo. isso seria o ato de um Deus cruel, que privilegia uns filhos de sua criação em detrimento de outros.
Ele sabe as nossas escolhas? Creio que sim. Agora, mais por conhecer as nossas tendências do que por predestinação, em minha opinião.
Sei que isto é um tópico bastante polêmico e que eu estou sugerindo um paradoxo, mas é como acreditar na evolução das espécies mesmo sendo cristão, ou no Big Bang. Basta que a interpretação seja feita da forma correta.
Eu imagino Deus se divertindo com a sua obra, compartilhando do seu crescimento e de suas adaptações. Vejo o Criador como um capacitador dos seus filhos, mostrando para eles o seu infinito amor por meio das escolhas que eles podem fazer. Imagino a grande explosão de amor bilhões de anos atrás, quando a “terra era sem forma e vazia”, mas no coração de seu Criador era um planeta cheio de vida.
Eu imagino tudo isso e isso não fere a minha fé. Ao contrário, a fortalece mais ainda. Deus nos ama tanto que nos deu a sua característica mais marcante, nos fez vivenciar, por meio da capacidade de escolher, um pouco do que Ele mesmo é: um Deus senciente e consciente, capaz de tomar o lugar de sua criação e fazer a escolha mais difícil: experimentar a morte para dar a vida.
Costumo dizer que carregamos em nosso interior uma fagulha do imenso poder de Deus. E esta fagulha é o bastante para vivenciarmos toda a sorte de experiências maravilhosas proporcionadas por nosso criador. Ter consciência de que somos o receptáculo desta bomba nuclear capaz de construir um universo de possibilidades nos faz melhores. Saber como usar este poder, então, isso sim é evolução.
Afinal, o que seria da vida sem escolhas? O que seria da vida sem sorvete? Talvez amanhã eu mude o sabor preferido e saber que esta escolha foi conseqüência de um ato deliberado e não de uma programação previamente inserida em meu mainframe me faz um pouco mais parecido com o que Deus espera que eu seja: um ser senciente e consciente, que conhece os sabores dos sorvetes da vida, mas escolhe um sabor como preferido, por que é o que mais agrada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Todo Carnaval tem seu fim


Antes de qualquer coisa, feliz 2009, Brasil! Este país, assim como os Judeus, os Muçulmanos, os Incas e os Chineses, tem épocas de início de ano diferentes. Aqui, é sempre no final de fevereiro, após as festas pagãs do carnaval.
Começamos o ano agora e ninguém mais lembra do que aconteceu no hiato que é o mês de janeiro. Na escala brasileira de tempo, o ano é composto de dez meses, com um intervalo de um mês e meio entre um ano e outro.
Este intervalo prejudica demais nosso país, comprometendo, desde a produção, até a formação de nossas mentes pensantes. Desde cedo, ainda na escola, a mentalidade do gosto pelo feriado é alimentada.
Diferente do resto do mundo, não gostamos de ter que ganhar dinheiro, nem de ter que aprender, nem de ter compromissos. Somos livres, leves e soltos, filhos da cruza entre Macunaíma e algum político alagoano, ou maranhense de vastos bigodes.
Pois é, brasileiros e brasileiras... 2009 está aí, começando agora. E aí? O que vamos fazer? Esperar 2010 chegar, de braços cruzados, olhando a crise passar na avenida do mundo, ou vamos tomar parte do desfile, mostrando a nossa cadência (ou decadência, não sei bem), tentando, ao ritmo alucinado dos passistas de carnaval, tirar alguma vantagem das dores do mundo?
Pandeiro em riste, o brasileiro é o eterno malandro, continuamente forçado a descansar pelas vicissitudes da vida. Só em 2009 são mais de 10 feriados em sextas-feiras e sábados. Mais desculpa para estendermos as redes da miséria sobre a possibilidade de crescimento.
A verdade é que o tempo passou na janela e nós, Carolinas, não vimos nada. Preferimos fofocar a crise alheia a ver aquela que estava bem dentro de nosso Brasil: a crise de caráter que há anos nos assola. Ou o país acaba com a saúva ou os políticos superfaturam o serviço de dedetização.
Deixa eu brincar de ser feliz? A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval, como diria o poetinha. Orfeus encantados com os grandes adereços e as imensas bundas artificiais em uma festa artificial, de pessoas vazias correndo as ruas a procura de satisfação que não existe, se iludem e se acabam no período em que reis gordos governam nosso triste país.
A tristeza deles não tem mesmo fim. Quando paramos e pensamos que os arlequins, as mulatas, os mestre-salas, as porta-estandartes, reis momos e rainhas de baterias só existem por três dias, mas imperam em nossos corações durante um ano inteiro, vemos o quanto permitimos que nossa felicidade se desvaneça em uma ilusão à toa.
Portanto, brinquem, sapateiem, pulem, bebam, beijem na boca, como diz a música. E depois, voltem para suas vidinhas medíocres e sem significado, com os narizes pintados de cor da pele, pois a verdadeira cor (o vermelho, dos palhaços que são) precisa ser camuflada pelo engano de si próprio.
Para os que, como eu, não gostam do intervalo de um mês e meio, vamos continuar de mangas arregaçadas, esticando nossas mãos à procura do trabalho sério que este país precisa que seja feito. Aos que esperaram a banda passar, continuem aí, cantando coisas de amor. Quando a festa acabar, quero ver quem vai limpar os confetes e as lágrimas do chão.