quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

"Meu lar é onde estão meus sapatos"


(Imagem extraída do site
Não há lugar como nosso lar. Dorothy estava certa. E quanto mais longe estamos de nosso lar, maior a certeza de que esta máxima é verdadeira.
O lar não é apenas um conjunto de paredes e um teto sob o qual você dorme todos os dias. Não é apenas um abrigo. Lar é mais que isso. É onde encontramos a paz de espírito, a segurança que toda uma vida não pôde oferecer.
Nem sempre nossa casa é nosso lar, pois não encontramos paz nela. Não encontramos o conforto necessário para sentir a segurança de uma vida.
Segurança, conforto, paz. Tudo isso se parece com conformismo, mas é apenas isso que as pessoas inconformadas procuram. Só que ainda não encontraram.
Eu não tenho o conceito de “lar” ligado a um lugar, mas a um estado de espírito. “Meu lar é onde estão meus sapatos”, diz uma letra de música de Sá e Guarabyra, e eu concordo plenamente. A paz está dentro do coração, e é preciso mergulhar nele para conseguir encontra-la.
Porém, o coração é tão grande quanto é possível que ele seja, e com caminhos tão misteriosos que nem seu próprio dono conhece plenamente. E como é difícil encontrar o “lar” dentro de nós quando não sabemos exatamente onde procurar.
Em mim sempre houve uma inquietação de viajar. A estrada me dá paz e a possibilidade de encontrar um lugar onde possa recostar minha cabeça e sentir esta sensação que sempre me visitou. Quando criança, morei em lugares bastante diferentes um do outro. Morei em Campinas, uma metrópole interiorana, com todo o charme e todos os perigos de uma grande cidade pequena e morei em Itariri, um canto do fim do mundo, cercado por bananeiras, serras e gente simples que me ensinou muito. Em nenhum destes dois lugares encontrei o lar que procurava.
Depois, para a faculdade, fui morar em Santos, a metrópole praiana de São Paulo. Agito noturno, praia diurna. Duas coisas que nunca aproveitei. “Por ser de lá do sertão, lá do serrado”, como dizia Gilberto Gil. Itariri estava impregnada em minhas roupas e não pude aproveitar nada de Santos, pois era apenas um caipira com saudades de um lugar que acreditava ser meu.
Mas não era. Quando voltava para lá, tudo o que sentia era vontade de ir embora, e quando estava em Santos, tudo o que queria era sair dali. Em resumo, até o final da faculdade eu não encontrei o meu “lar”, nem paz interior.
Gostaria de dizer que quando conheci Jesus esta inquietação acabou, mas seria mentira. Ainda hoje sou visitado pela vontade de calçar sandálias e sair, simplesmente ir embora. Não fugir das responsabilidades que tenho (trabalho, esposa que amo, contas a pagar), mas buscar as irresponsabilidades que não tive, esta grande viagem que não vivi, esta busca por mim mesmo que até hoje ainda não consegui empreender.
Ter coisas nunca teve qualquer significado para mim. Não consigo desejar obter coisas. Tudo o que queria (é incrível o que o inconsciente faz) são as coisas necessárias para a minha viagem interior. Quando saímos do lugar onde estamos, fisicamente falando, estamos refletindo externamente a viagem interior que precisamos empreender. Procurar um lugar fora de nós que reflita o lugar dentro de nós que ainda não exploramos. não se trata de conhecer novos lugares, mas de descobrir dentro de nós os recantos desconhecidos e nos conectarmos com eles. Não é desbravar estradas, mas cria-las para dentro de nós. Não um lugar que nos traga paz, mas um lugar de onde a paz que existe dentro de nós possa aflorar plenamente. Quando viajamos, não buscamos algo fora, mas dentro e que cuja profundidade não tínhamos conhecimento.
Não há lugar como nosso lar. Mas onde é meu lar? Que lugar é este que ainda não descobri e de onde nada desfrutei? O conformismo e as responsabilidades tiraram de mim a vontade de buscar? Não. Mas tiraram a força para sair. Não há mochilas preparadas, não há um itinerário me esperando. Não há uma estrada aberta em mim. O conformismo me pegou e me deixou mergulhado neste lugar onde me sinto desconfortável de tão confortável. Resignei-me a aceitar a zona de conforto como sendo meu destino final.
Mas não é. A viagem não pode acabar assim. Não em um subúrbio gelado, com casinhas de muros baixos, mas em um lindo por de sol perdido no meio do nada. a jornada não acabou, apenas teve que ser interrompida. Na busca da paz, do “lar”, do por de sol perfeito eu vou seguir, procurando saber quem sou, para onde vou e de onde vim, sabendo que não posso parar, pois parar é permitir que o conformismo domine tudo, e não posso aceitar o conformismo de forma alguma.

Um comentário:

  1. Muitos dos herois da fé morreram sem ter conquistado a herança prometida , mas tinham-na em vista como vendo o invisivel. Na casa de meu pai há muitas moradas disse jesus.Não recuse o anél e as veste que o identifica como filho de Deus.

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