segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Como ler este BLOG?

1ª coisa: Parece obvio, mas não é. Leia o blog de baixo para cima. Os primeiros posts explicam qual o propósito deste trabalho e ambientam você no universo que estou querendo que você entenda.
2ª coisa: Não pense que vai me entender, ou entender a si próprio depois de ler o que escrevi. Não estou escrevendo um mapa, mas explorando territórios desconhecidos dentro de mim, que talvez sirvam para você também.
3ª coisa: Na vida, não há respostas fáceis que levem ao certo. O grande sábio Dumbledore dizia para Harry Potter “Na vida há as escolhas fáceis e as escolhas certas”. Eu resolvi fazer as certas, por mais difíceis que sejam. (eu não leio Harry Potter e nem indico para ninguém)
4ª coisa: procure por você honestamente, sem esconder-se atrás de desculpas. Não se vitimize e nem ataque de forma vazia. Ouça, leia, absorva o que te servir e o que não servir, jogue fora.
5ª coisa: Este blog é para você, e não para o seu vizinho, a sua namorada, o seu colega de trabalho, seu patrão que te persegue. Pare de transferir para as outras pessoas as suas frustrações e encare, como homem ou mulher que você é, a pessoa que você realmente precisa ser. (Mas, se você conhecer alguém para quem seria interessante a leitura deste blog, indique!)
6ª coisa: Deus tem muito mais para você do que você está imaginando. Minha viagem serviu para mim e tento te mostrar de que forma uma viagem pode servir para você.
7ª coisa: Transparência, honestidade, força de vontade, caráter. Cada uma destas características eram ausentes em mim, mas resolvi vencer uma de cada vez (exatamente nesta ordem) para conseguir me tornar alguém melhor. Ainda há coisas que preciso melhorar, mas já avancei bastante, graças a Deus.
8ª coisa: Os títulos guardam links interessantes que têm ligação com o assunto tratado. Assista aos vídeos, visite os sites, leia as letras de músicas. Deixe-se envolver pelo universo que envolveu minha viagem. Deixe-se ser tocado, pois isto faz toda a diferença.
9ª coisa: As imagens foram todas trabalhadas, de alguma forma, por mim, mas não são de minha autoria, porém, infelizmente não sei quem são os autores. Fico devendo esta.

10ª coisa: Conheça Renée Magritte. Isso mudou minha visão de mundo, significado e simbolismo. E tudo é significado ou simbolismo. Conheça, também, Henri Cartier-Bresson, que desenvolveu a compreensão sobre o que são Momentos Mágicos e como captura-los pela lente de uma câmera.

11ª coisa: A mais importante de todas: conheça Jesus. Deixe que Ele se apresente para você. Deixe o preconceito de lado, pois não estou te convidando para ir “na igreja” ou “ser crente”, mas pedindo para você permitir que Jesus te mostre qual é a dele. Se você conhece alguém que O conhece, peça para ser apresentado. Se não, apresente-se a ele em sua casa, ajoelhado ao lado de sua cama, ele vai falar com você. Ele não deixa ninguém sem resposta.

E, por fim, que Deus te abençõe! Tenha uma ótima viagem!
Quando chegamos ao destino de nossas viagens, é como uma etapa que concluímos. Como se uma fase fosse vencida e outra fase começasse a partir dali.


Mas os detalhes da viagem ficam em nossa mente. Seja a vida passando pela janela do ônibus, ou sob as asas de um avião. Seja o vento batendo no rosto na janela do carro, seja o dedo estirado na beira da estrada, procurando chegar, sobre rodas, onde, sobre os pés, é longe demais.

Meu lar é onde estão meus sapatos, e meus sapatos estão em meus pés no momento, e para onde eu for, é lá que tenho que estar. Minha alegria não depende de ter, ser ou fazer mais do que os outros, mas agregar valor às vidas à minha volta.

A prioridade em nossas vidas, para Deus, é que busquemos a felicidade. Mas ele quer que a busquemos no lugar certo. O que vou falar pode ferir alguns ouvidos, mas é a verdade. Deus não quer que sejamos prósperos, ou que sejamos bons em algo. Deus quer que sejamos felizes, e se, para que nossa felicidade seja completa, ele precisar tirar algo de nós, então ele tirará. Não por maldade, mas para nos limpar.

Não quero ser melhor, nem fazer algo a mais. Esta viagem não serve para mim, meu itinerário é outro.

Cheguei ao fim desta viagem. Descobri quem sou e o que tenho que fazer? Sei o que Deus quer de mim? Não. Porém, descobri, em minha caminhada, que estes objetivos não são um fim em si, mas um caminho para a felicidade, e este caminho preciso caminhar com aqueles que amo.

Se sou importante para eles? Espero que seja tão importante para as pessoas que amo quanto elas são importantes para mim. O mundo não gira em torno de mim, eu giro em torno do mundo e preciso fazer com que ele mude de rota. Todos estão surdos, como diria a música de Roberto Carlos.

Todos estão orgulhosos demais, egoístas demais, feridos demais. A mídia em geral vende uma imagem de que aqueles que possuem são felizes, quando não são. Materialismo e pressa invadem nossas vidas de tal maneira que as coisas realmente importantes passam a ser deixadas de lado em detrimento das coisas urgentes.

Urgência e importância. Pressa e significado. Materialismo e relevância. Opostos absolutos, como bifurcações em nossa estrada que nos levam para caminhos diferentes. Não quero passar pela vida, como um ônibus que passa pelo ponto deixando a gente ali. Quero ter importância, significado e relevância, pois são as únicas coisas que realmente nos deixam felizes conosco mesmo.

É irônico, não? Só conseguimos ficar felizes conosco quando influenciamos as pessoas à nossa volta. Inconscientemente descobri que a minha felicidade está atrelada à felicidade dos que amo e a minha realização está ligada diretamente à realização dos que me cercam.

Só sou feliz aqui dentro quando olho para fora. Deus me ensinou que a melhor viagem interior que eu poderia fazer é à minha volta. Meu mundo se expandiu com este blog e quero agradecer a todos que me acompanharam até aqui nesta viagem em busca do autoconhecimento.

Como disse, não cheguei a conclusão nenhuma até agora, mas sei de uma coisa: Deus sabe exatamente qual o caminho que eu preciso tomar. Até que ele revele, pego meus sapatos e calço em meus pés. Meu lar é onde estão meus sapatos, e meus sapatos estão aqui e agora, e não em qualquer outro tempo ou qualquer outro lugar.

Adiante sonhos. Atrás, poeira.


Deus te abençoe!

João Thiago

Viajante

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tudo o que é vivo, morre

Este mês uma amiga morreu. Foi a experiência de perda mais próxima que enfrentei em minha vida.

Nunca perdi alguém tão próximo. Diferente da minha esposa, que desde cedo sabe o que é perder as pessoas que ama. Seu pai morreu quando ela era criança e esta lembrança ainda vagueia à sua volta. Ela ainda perdeu amigos e avós durante toda sua vida. Ela se apega às pessoas e vive como se amanhã elas fossem morrer.

Eu, diferente, não me apego às pessoas. Não que não dê amor, mas a falta da experiência da morte me fez totalmente perene diante da sua certa, triste e violenta realidade.

Até certa indiferença me marcava. Dureza e pragmatismo. Eu era muito seco.

Até a morte desta amiga.

A morte é uma ruptura na trama natural da vida. Mas uma ruptura tão natural quanto a trama toda à sua volta. Não há nada de sobrenatural na morte, mas ao contrário, há uma constatação de que a natureza segue seu curso eternamente, pois, como já diria Chicó, personagem do Auto da Compadecida, tudo o que é vivo, morre.

Inexorável esta força da natureza. O curso do rio da vida nos mostra que não estamos livres, nenhum de nós, da fatídica hora de encarar o fim. Porém, quantas vezes fingimos que este fim não chegará?

Pensamo-nos imortais, eternos. Imaginamos que podemos fazer o que for e não seremos atingidos. Vemos-nos como grandes guerreiros vencedores de todas as batalhas.

Porém, e se Deus resolver abreviar nossos dias? Como vou olhar, por exemplo, para a imagem do meu pai ou da minha mãe dentro de um caixão forrado de flores?

E eu? Até quando durarei? Há alguns meses venho sentindo umas pontadas no coração. Aos 28 anos isto é mais perigoso, pois o impacto é mais violento, do que aos 40. Conduzi minha vida longe da morte, evitando a dor e a tristeza. Será que terei de encará-la tão cedo?

Demonstrei até agora certa indiferença frente à dor da perda dos outros. Porém, isto se dá por causa da ausência da experiência. Eu julgava, em meu entendimento, que a dor não é tão grande a ponto de deixar as pessoas da forma como ficam e que a experiência da morte é distorcida pela cultura judaico-cristã, que demonstra, de forma errada, que é uma experiência de perda, terror e tristeza.

“Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro”. É o que dizia o apóstolo Paulo quando lhe perguntavam se tinha medo de morrer. Ele sabia qual era sua missão e estava determinado a cumpri-la. Como diria Montesquieu, devemos chorar às pessoas quando nascem e não quando morrem. Nascer é expor-se a este mundo triste, enquanto morrer é encontrar a paz tão buscada em todas as nossas lutas.

O que escreverão em meu epitáfio? O que estaria sobre o meu esquife? Quantas coroas estariam à volta do meu caixão? Quantas mãos disputariam as suas alças? O que as pessoas diriam em minha derradeira despedida?

Pensei nisso enquanto carregava a alça do caixão da minha amiga. Não perdi muitas pessoas importantes. Esta foi uma das mais marcantes e tocantes despedidas de que me recordo. Não tive coragem de olhar seu caixão. Não gosto da cara que a morte nos dá. Cara de abandono e solidão. Não nos faz justiça.

Só acreditaria em um Deus que soubesse dançar (Nietsche)

Para saber mais sobre a banda acima, acesse aqui
Para saber mais sobre Nietzsche, acesse aqui
Para saber mais sobre Deus, acesse aqui
O ser humano (eu sempre começo os textos falando do ser humano) é uma racinha egoísta e preocupada consigo mesma.

Porém, temos nossos grandes momentos de altruísmo, entrega, e coletividade e os momentos em que enxergamos que todos somos um e que estamos todos conectados, ligados em uma mesma vibração, que é a velocidade do coração de Deus.

O que me trouxe a escrever este texto hoje foi ter entrado na internet, no site do Jacaré Banguela (é, eu fico investindo meu tempo em entretenimento de qualidade às vezes. É o famoso ócio criativo) e me deparei com um projeto muito interessante, que me mostrou exatamente o aspecto de que estou falando: estamos todos ligados em uma mesma vibração.

Um diretor de filmes resolveu sair pelo mundo com 7 músicas conhecidas de todos debaixo do braço, parou nas esquinas, com os músicos das ruas e gravou suas interpretações. criou, assim, o Playing for Change, que quer mostrar este princípio básico: todos somos cordas de um mesmo instrumento.

O trabalho me mostrou o quanto a música nos conecta, nos faz ser um só. Como em uma tribo, se movendo pelo instinto. Como músicos, que se entendem entre si.

Estes humanos excepcionais nos mostram o quanto uma linguagem universal pode tocar diferentes culturas e ser usada para mostrar o quanto nosso mundo é pequeno e o quanto somos próximos. Estamos conectados. Fazemos parte da mesma banda.

Quando entendemos que este mundo é uma esquina, onde o Senhor toca com maestria sua gaita, só nos resta uma decisão a tomar.

Dançar.

E Deus dança conosco.

Teu passado te condena

O Paulo era um amigo da minha família lá em Itariri. Quando a gente morou no sítio (eu morei em um sítio, caso você não tenha lido o primeiro post) ele era caseiro de um vizinho nosso, e sempre solícito, ajudando todo mundo. Paulo vinha de Pernambuco, tinha uns olhos azuis profundos, um corpo franzino, mas musculoso, andava de cabeça baixa e não gostava de muita bagunça. Seu fraco eram as mulheres, e ele sempre aparecia com uma diferente que fazia ele de gato e sapato e deixava ele sem nada no final.

O Paulo tinha vindo fugido de Pernambuco. Tinha feito coisa feia por lá. Tinha cabra da volante caçando ele pelo Brasil inteiro. Quem via o Paulo que a gente conhecia não imaginava que seu passado era coberto de sangue e dor. Tristeza que ele não podia conter nos olhos.

Uma noite, graças à cachaça e à nossa conversa, Paulo nos contou o que aconteceu. Ele era matador de aluguel, destes que os coronéis contratam quando querem tirar um desafeto do caminho. Tinha sangue ruim quando estava por lá, mas, quando veio prá cá, se acalmou.

Mas a gente sabia que ele tinha um trinta e oito guardado no quarto e que dormia com o facão enfiado em baixo do travesseiro. O Paulo era do tipo que não fechava um olho junto com o outro, não olhava nos olhos das pessoas, andava sempre dois passos atrás de você, para te proteger e observar.

Uma noite, no restaurante, um bando queria nos assaltar. Prepararam tudo para fazer o roubo. Só não contavam com o próprio coração mole de um dos membros, que era meu amigo, e para quem, naquela noite, eu paguei uma cerveja, pois já sabia os planos. Depois que fechamos, ficamos tensos, não conseguindo dormir.

Paulo me viu na varanda de madrugada.

_ Se aquete, Joãozinho. Vá dormir. Não vai acontecer nada.

Na penumbra da rua, vi, durante toda a noite aquele vulto escondido. Sabia que era o Paulo e que estava ali para evitar que qualquer mal acontecesse.

E funcionou.

Meu “amigo”, que queria nos assaltar foi “visitado” pelo Paulo, a gente descobriu depois. De noite, dormindo, ele só sentiu o golpe da face avessa do facão descendo em sua testa e o aviso. “Não faça nada, não mexa em nada e você sabe do que estou falando”. O vulto saiu do quarto e o cidadão nunca mais tentou fazer qualquer coisa contra nós.

Paulo, por amor a nós, permitiu que sua natureza anterior se manifestasse. Ele se arriscou a encarar seus demônios interiores para que nós ficássemos protegidos, e por isso lhe sou eternamente grato.

Nos dias seguintes, ele continuava a mesma pessoa de sempre. Os mesmos olhos fugidios, a cabeça baixa, os passos lentos e a voz calma, como se nada tivesse acontecido. Paulo não negava quem era. Ao contrário, encarava seu próprio mal para proteger aqueles que amava.

Já não o vemos há alguns anos. Não sei o que anda fazendo, mas sei que nunca mais sofremos qualquer ameaça enquanto moramos lá.

Diante de uma mudança drástica de vida nós escondemos nosso passado, fingindo que ele nunca aconteceu. Paulo me mostrou que, mesmo as piores coisas do meu passado devem ser usadas de alguma forma no presente para construir um futuro melhor.

Eu lembro que ele falava da sua história com amargura, se arrependendo do mal que havia feito lá atrás. Mesmo assim, sabia tirar proveito de seu “conhecimento”. Sem precisar voltar às “velhas obras”, soube pegar o melhor de sua experiência e aplicar em sua vida presente. Sua atitude foi de confiança de que seu histórico falaria por si só.

Porém, e quanod só conseguimos trazer de nosso passado aquilo que ele tem de ruim? Quando as nossas memórias nos lembram do mal que causamos.

Sou visitado pela culpa por velhos pecados às vezes. Certa vez acabei com a venda de uma colega de loja por que falei demais sobre um cliente, e falei em voz alta. Eu o conhecia de Itariri, e falei o que não devia. Ele pegou suas coisinhas e foi embora, sem gastar um tostão.

Até hoje eu sinto vontade de pedir desculpas para ele. Ao invés de pegar no meu passado as boas coisas e aplicar, eu preferi usar o meu pior e soltar minha língua.

Passado é algo que nos persegue onde quer que formos. Cabe a nós saber o que vamos usar dele no presente. Que lições podemos trazer para nossas vidas.

A beleza da lição que aprendi com Paulo (que, óbvio, não se chama Paulo) é que, quando olhamos para trás e sabemos separar a amargura da prática de vida, conseguimos tirar grandes lições.