segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Como ler este BLOG?

1ª coisa: Parece obvio, mas não é. Leia o blog de baixo para cima. Os primeiros posts explicam qual o propósito deste trabalho e ambientam você no universo que estou querendo que você entenda.
2ª coisa: Não pense que vai me entender, ou entender a si próprio depois de ler o que escrevi. Não estou escrevendo um mapa, mas explorando territórios desconhecidos dentro de mim, que talvez sirvam para você também.
3ª coisa: Na vida, não há respostas fáceis que levem ao certo. O grande sábio Dumbledore dizia para Harry Potter “Na vida há as escolhas fáceis e as escolhas certas”. Eu resolvi fazer as certas, por mais difíceis que sejam. (eu não leio Harry Potter e nem indico para ninguém)
4ª coisa: procure por você honestamente, sem esconder-se atrás de desculpas. Não se vitimize e nem ataque de forma vazia. Ouça, leia, absorva o que te servir e o que não servir, jogue fora.
5ª coisa: Este blog é para você, e não para o seu vizinho, a sua namorada, o seu colega de trabalho, seu patrão que te persegue. Pare de transferir para as outras pessoas as suas frustrações e encare, como homem ou mulher que você é, a pessoa que você realmente precisa ser. (Mas, se você conhecer alguém para quem seria interessante a leitura deste blog, indique!)
6ª coisa: Deus tem muito mais para você do que você está imaginando. Minha viagem serviu para mim e tento te mostrar de que forma uma viagem pode servir para você.
7ª coisa: Transparência, honestidade, força de vontade, caráter. Cada uma destas características eram ausentes em mim, mas resolvi vencer uma de cada vez (exatamente nesta ordem) para conseguir me tornar alguém melhor. Ainda há coisas que preciso melhorar, mas já avancei bastante, graças a Deus.
8ª coisa: Os títulos guardam links interessantes que têm ligação com o assunto tratado. Assista aos vídeos, visite os sites, leia as letras de músicas. Deixe-se envolver pelo universo que envolveu minha viagem. Deixe-se ser tocado, pois isto faz toda a diferença.
9ª coisa: As imagens foram todas trabalhadas, de alguma forma, por mim, mas não são de minha autoria, porém, infelizmente não sei quem são os autores. Fico devendo esta.

10ª coisa: Conheça Renée Magritte. Isso mudou minha visão de mundo, significado e simbolismo. E tudo é significado ou simbolismo. Conheça, também, Henri Cartier-Bresson, que desenvolveu a compreensão sobre o que são Momentos Mágicos e como captura-los pela lente de uma câmera.

11ª coisa: A mais importante de todas: conheça Jesus. Deixe que Ele se apresente para você. Deixe o preconceito de lado, pois não estou te convidando para ir “na igreja” ou “ser crente”, mas pedindo para você permitir que Jesus te mostre qual é a dele. Se você conhece alguém que O conhece, peça para ser apresentado. Se não, apresente-se a ele em sua casa, ajoelhado ao lado de sua cama, ele vai falar com você. Ele não deixa ninguém sem resposta.

E, por fim, que Deus te abençõe! Tenha uma ótima viagem!
Quando chegamos ao destino de nossas viagens, é como uma etapa que concluímos. Como se uma fase fosse vencida e outra fase começasse a partir dali.


Mas os detalhes da viagem ficam em nossa mente. Seja a vida passando pela janela do ônibus, ou sob as asas de um avião. Seja o vento batendo no rosto na janela do carro, seja o dedo estirado na beira da estrada, procurando chegar, sobre rodas, onde, sobre os pés, é longe demais.

Meu lar é onde estão meus sapatos, e meus sapatos estão em meus pés no momento, e para onde eu for, é lá que tenho que estar. Minha alegria não depende de ter, ser ou fazer mais do que os outros, mas agregar valor às vidas à minha volta.

A prioridade em nossas vidas, para Deus, é que busquemos a felicidade. Mas ele quer que a busquemos no lugar certo. O que vou falar pode ferir alguns ouvidos, mas é a verdade. Deus não quer que sejamos prósperos, ou que sejamos bons em algo. Deus quer que sejamos felizes, e se, para que nossa felicidade seja completa, ele precisar tirar algo de nós, então ele tirará. Não por maldade, mas para nos limpar.

Não quero ser melhor, nem fazer algo a mais. Esta viagem não serve para mim, meu itinerário é outro.

Cheguei ao fim desta viagem. Descobri quem sou e o que tenho que fazer? Sei o que Deus quer de mim? Não. Porém, descobri, em minha caminhada, que estes objetivos não são um fim em si, mas um caminho para a felicidade, e este caminho preciso caminhar com aqueles que amo.

Se sou importante para eles? Espero que seja tão importante para as pessoas que amo quanto elas são importantes para mim. O mundo não gira em torno de mim, eu giro em torno do mundo e preciso fazer com que ele mude de rota. Todos estão surdos, como diria a música de Roberto Carlos.

Todos estão orgulhosos demais, egoístas demais, feridos demais. A mídia em geral vende uma imagem de que aqueles que possuem são felizes, quando não são. Materialismo e pressa invadem nossas vidas de tal maneira que as coisas realmente importantes passam a ser deixadas de lado em detrimento das coisas urgentes.

Urgência e importância. Pressa e significado. Materialismo e relevância. Opostos absolutos, como bifurcações em nossa estrada que nos levam para caminhos diferentes. Não quero passar pela vida, como um ônibus que passa pelo ponto deixando a gente ali. Quero ter importância, significado e relevância, pois são as únicas coisas que realmente nos deixam felizes conosco mesmo.

É irônico, não? Só conseguimos ficar felizes conosco quando influenciamos as pessoas à nossa volta. Inconscientemente descobri que a minha felicidade está atrelada à felicidade dos que amo e a minha realização está ligada diretamente à realização dos que me cercam.

Só sou feliz aqui dentro quando olho para fora. Deus me ensinou que a melhor viagem interior que eu poderia fazer é à minha volta. Meu mundo se expandiu com este blog e quero agradecer a todos que me acompanharam até aqui nesta viagem em busca do autoconhecimento.

Como disse, não cheguei a conclusão nenhuma até agora, mas sei de uma coisa: Deus sabe exatamente qual o caminho que eu preciso tomar. Até que ele revele, pego meus sapatos e calço em meus pés. Meu lar é onde estão meus sapatos, e meus sapatos estão aqui e agora, e não em qualquer outro tempo ou qualquer outro lugar.

Adiante sonhos. Atrás, poeira.


Deus te abençoe!

João Thiago

Viajante

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tudo o que é vivo, morre

Este mês uma amiga morreu. Foi a experiência de perda mais próxima que enfrentei em minha vida.

Nunca perdi alguém tão próximo. Diferente da minha esposa, que desde cedo sabe o que é perder as pessoas que ama. Seu pai morreu quando ela era criança e esta lembrança ainda vagueia à sua volta. Ela ainda perdeu amigos e avós durante toda sua vida. Ela se apega às pessoas e vive como se amanhã elas fossem morrer.

Eu, diferente, não me apego às pessoas. Não que não dê amor, mas a falta da experiência da morte me fez totalmente perene diante da sua certa, triste e violenta realidade.

Até certa indiferença me marcava. Dureza e pragmatismo. Eu era muito seco.

Até a morte desta amiga.

A morte é uma ruptura na trama natural da vida. Mas uma ruptura tão natural quanto a trama toda à sua volta. Não há nada de sobrenatural na morte, mas ao contrário, há uma constatação de que a natureza segue seu curso eternamente, pois, como já diria Chicó, personagem do Auto da Compadecida, tudo o que é vivo, morre.

Inexorável esta força da natureza. O curso do rio da vida nos mostra que não estamos livres, nenhum de nós, da fatídica hora de encarar o fim. Porém, quantas vezes fingimos que este fim não chegará?

Pensamo-nos imortais, eternos. Imaginamos que podemos fazer o que for e não seremos atingidos. Vemos-nos como grandes guerreiros vencedores de todas as batalhas.

Porém, e se Deus resolver abreviar nossos dias? Como vou olhar, por exemplo, para a imagem do meu pai ou da minha mãe dentro de um caixão forrado de flores?

E eu? Até quando durarei? Há alguns meses venho sentindo umas pontadas no coração. Aos 28 anos isto é mais perigoso, pois o impacto é mais violento, do que aos 40. Conduzi minha vida longe da morte, evitando a dor e a tristeza. Será que terei de encará-la tão cedo?

Demonstrei até agora certa indiferença frente à dor da perda dos outros. Porém, isto se dá por causa da ausência da experiência. Eu julgava, em meu entendimento, que a dor não é tão grande a ponto de deixar as pessoas da forma como ficam e que a experiência da morte é distorcida pela cultura judaico-cristã, que demonstra, de forma errada, que é uma experiência de perda, terror e tristeza.

“Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro”. É o que dizia o apóstolo Paulo quando lhe perguntavam se tinha medo de morrer. Ele sabia qual era sua missão e estava determinado a cumpri-la. Como diria Montesquieu, devemos chorar às pessoas quando nascem e não quando morrem. Nascer é expor-se a este mundo triste, enquanto morrer é encontrar a paz tão buscada em todas as nossas lutas.

O que escreverão em meu epitáfio? O que estaria sobre o meu esquife? Quantas coroas estariam à volta do meu caixão? Quantas mãos disputariam as suas alças? O que as pessoas diriam em minha derradeira despedida?

Pensei nisso enquanto carregava a alça do caixão da minha amiga. Não perdi muitas pessoas importantes. Esta foi uma das mais marcantes e tocantes despedidas de que me recordo. Não tive coragem de olhar seu caixão. Não gosto da cara que a morte nos dá. Cara de abandono e solidão. Não nos faz justiça.

Só acreditaria em um Deus que soubesse dançar (Nietsche)

Para saber mais sobre a banda acima, acesse aqui
Para saber mais sobre Nietzsche, acesse aqui
Para saber mais sobre Deus, acesse aqui
O ser humano (eu sempre começo os textos falando do ser humano) é uma racinha egoísta e preocupada consigo mesma.

Porém, temos nossos grandes momentos de altruísmo, entrega, e coletividade e os momentos em que enxergamos que todos somos um e que estamos todos conectados, ligados em uma mesma vibração, que é a velocidade do coração de Deus.

O que me trouxe a escrever este texto hoje foi ter entrado na internet, no site do Jacaré Banguela (é, eu fico investindo meu tempo em entretenimento de qualidade às vezes. É o famoso ócio criativo) e me deparei com um projeto muito interessante, que me mostrou exatamente o aspecto de que estou falando: estamos todos ligados em uma mesma vibração.

Um diretor de filmes resolveu sair pelo mundo com 7 músicas conhecidas de todos debaixo do braço, parou nas esquinas, com os músicos das ruas e gravou suas interpretações. criou, assim, o Playing for Change, que quer mostrar este princípio básico: todos somos cordas de um mesmo instrumento.

O trabalho me mostrou o quanto a música nos conecta, nos faz ser um só. Como em uma tribo, se movendo pelo instinto. Como músicos, que se entendem entre si.

Estes humanos excepcionais nos mostram o quanto uma linguagem universal pode tocar diferentes culturas e ser usada para mostrar o quanto nosso mundo é pequeno e o quanto somos próximos. Estamos conectados. Fazemos parte da mesma banda.

Quando entendemos que este mundo é uma esquina, onde o Senhor toca com maestria sua gaita, só nos resta uma decisão a tomar.

Dançar.

E Deus dança conosco.

Teu passado te condena

O Paulo era um amigo da minha família lá em Itariri. Quando a gente morou no sítio (eu morei em um sítio, caso você não tenha lido o primeiro post) ele era caseiro de um vizinho nosso, e sempre solícito, ajudando todo mundo. Paulo vinha de Pernambuco, tinha uns olhos azuis profundos, um corpo franzino, mas musculoso, andava de cabeça baixa e não gostava de muita bagunça. Seu fraco eram as mulheres, e ele sempre aparecia com uma diferente que fazia ele de gato e sapato e deixava ele sem nada no final.

O Paulo tinha vindo fugido de Pernambuco. Tinha feito coisa feia por lá. Tinha cabra da volante caçando ele pelo Brasil inteiro. Quem via o Paulo que a gente conhecia não imaginava que seu passado era coberto de sangue e dor. Tristeza que ele não podia conter nos olhos.

Uma noite, graças à cachaça e à nossa conversa, Paulo nos contou o que aconteceu. Ele era matador de aluguel, destes que os coronéis contratam quando querem tirar um desafeto do caminho. Tinha sangue ruim quando estava por lá, mas, quando veio prá cá, se acalmou.

Mas a gente sabia que ele tinha um trinta e oito guardado no quarto e que dormia com o facão enfiado em baixo do travesseiro. O Paulo era do tipo que não fechava um olho junto com o outro, não olhava nos olhos das pessoas, andava sempre dois passos atrás de você, para te proteger e observar.

Uma noite, no restaurante, um bando queria nos assaltar. Prepararam tudo para fazer o roubo. Só não contavam com o próprio coração mole de um dos membros, que era meu amigo, e para quem, naquela noite, eu paguei uma cerveja, pois já sabia os planos. Depois que fechamos, ficamos tensos, não conseguindo dormir.

Paulo me viu na varanda de madrugada.

_ Se aquete, Joãozinho. Vá dormir. Não vai acontecer nada.

Na penumbra da rua, vi, durante toda a noite aquele vulto escondido. Sabia que era o Paulo e que estava ali para evitar que qualquer mal acontecesse.

E funcionou.

Meu “amigo”, que queria nos assaltar foi “visitado” pelo Paulo, a gente descobriu depois. De noite, dormindo, ele só sentiu o golpe da face avessa do facão descendo em sua testa e o aviso. “Não faça nada, não mexa em nada e você sabe do que estou falando”. O vulto saiu do quarto e o cidadão nunca mais tentou fazer qualquer coisa contra nós.

Paulo, por amor a nós, permitiu que sua natureza anterior se manifestasse. Ele se arriscou a encarar seus demônios interiores para que nós ficássemos protegidos, e por isso lhe sou eternamente grato.

Nos dias seguintes, ele continuava a mesma pessoa de sempre. Os mesmos olhos fugidios, a cabeça baixa, os passos lentos e a voz calma, como se nada tivesse acontecido. Paulo não negava quem era. Ao contrário, encarava seu próprio mal para proteger aqueles que amava.

Já não o vemos há alguns anos. Não sei o que anda fazendo, mas sei que nunca mais sofremos qualquer ameaça enquanto moramos lá.

Diante de uma mudança drástica de vida nós escondemos nosso passado, fingindo que ele nunca aconteceu. Paulo me mostrou que, mesmo as piores coisas do meu passado devem ser usadas de alguma forma no presente para construir um futuro melhor.

Eu lembro que ele falava da sua história com amargura, se arrependendo do mal que havia feito lá atrás. Mesmo assim, sabia tirar proveito de seu “conhecimento”. Sem precisar voltar às “velhas obras”, soube pegar o melhor de sua experiência e aplicar em sua vida presente. Sua atitude foi de confiança de que seu histórico falaria por si só.

Porém, e quanod só conseguimos trazer de nosso passado aquilo que ele tem de ruim? Quando as nossas memórias nos lembram do mal que causamos.

Sou visitado pela culpa por velhos pecados às vezes. Certa vez acabei com a venda de uma colega de loja por que falei demais sobre um cliente, e falei em voz alta. Eu o conhecia de Itariri, e falei o que não devia. Ele pegou suas coisinhas e foi embora, sem gastar um tostão.

Até hoje eu sinto vontade de pedir desculpas para ele. Ao invés de pegar no meu passado as boas coisas e aplicar, eu preferi usar o meu pior e soltar minha língua.

Passado é algo que nos persegue onde quer que formos. Cabe a nós saber o que vamos usar dele no presente. Que lições podemos trazer para nossas vidas.

A beleza da lição que aprendi com Paulo (que, óbvio, não se chama Paulo) é que, quando olhamos para trás e sabemos separar a amargura da prática de vida, conseguimos tirar grandes lições.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pão e Circo


Tecle no título e veja a entrevista mais inteligente que o Datena já deu.
Tecle na foto e compre uma briga que vale a pena. Eu não sou adepto, mas apoio!


Desde tempos imemoriais o homem se diverte com a desgraça alheia. Um padrão triste de comportamento que, geração após geração, se repete, deixando-nos envergonhados de tamanha carnificina em prol do entretenimento.
Sabedores deste fato, os governantes sempre lançaram mão de recursos cruéis para aumentarem sua popularidade. Gladiadores lutavam até a morte no império romano, homens eram crucificados por seus crimes, mulheres apedrejadas por seus erros.
Lançavam mão de tais recursos, também, para controlar o povo que, assistindo a tais eventos, vendo que os envolvidos se feriam, sentiam-se mais “aliviados” e consideravam seus problemas mais simples, visto que não era necessário sangue para resolve-los.
Até hoje é assim. Na TV, vemos desde o sofrimento mental de Susan Boyle e sua evidente doença até Datena falando sobre bandidos foragidos no centro de São Paulo. Uma leve zappeada pelos canais de nossa TV aberta é o bastante para ver os gladiadores do nosso cotidiano e seu banho de sangue contínuo e ininterrupto.
A TV nos oferece este “ópio desnecessário”. Um bálsamo mentiroso que nos vicia e nos prende diante dela, em uma relação de amor e ódio que apenas expõe a miséria humana e a necessidade de simplificar nossos relacionamentos.
De linguagem dinâmica e rápida, calcado no carisma (nem sempre cativante, mas sempre marcante) de seus apresentadores, programas como o Brasil Urgente ainda existem, e teimam em encher nossas TVs da miséria humana mais degradante.
Os pobres de espírito, tristes, desolados, solitários e abandonados de todos os lugares ainda assistem a estas desgraças, enchendo suas mentes de fatos tristes e opiniões extremas.
São favoráveis à pena de morte quando lhes convém. Querem prisão perpétua quando é interessante. Vêem como heroísmo os linchamentos e como vilões a maioria dos policiais que apenas está fazendo seu trabalho. Programas assim colaboram com os bandidos, que só querem publicidade e estão longe de receber a punição merecida.
Aqui na empresa onde trabalho uma moça sempre traz as “boas novas” que o Datena apresenta. Crianças mortas de fome, seqüestros relâmpagos, incêndios, assassinatos, policiais corruptos. Sempre a mesma história, com diferentes personagens e ambientes, mas sempre com o mesmo final: tragédia. Fico pensando em como ela lida com os próprios problemas. A televisão é o ópio do povo, e ela já está viciada.
Como disse, desde tempos imemoriais ver o problema alheio é motivo de entretenimento, pois nos isola de nossos próprios problemas, nos transformando em conformistas deterministas. Frases como “este mundo não tem jeito”, “disso para pior” são comuns na boca destas pessoas, que agradecem a Deus pelas próprias misérias serem tão pequenas perto daquelas que vêem na TV.
E na TV, os gladiadores de hoje ainda lutam. Sangue ainda escorre pelas telas e o som dos tiros pode ser ouvido a milhas de distância. Enquanto a miséria à sua volta não é tratada, o cidadão zappeia sua TV em busca de uma miséria alheia, à qual ele está alheio, mas da qual quer participar, pois não vai piorar sua vida e ele vai poder comentar algo com os outros “cidadãos padrão” que estão à sua volta. A “máquina de fazer doido” continua a atacar impiedosamente, e o cidadão, coitado, continua parado, na mesma, apenas recebendo os golpes e pedindo mais.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Meus "Ídolos" de carne

O talento do Chico me bestifica. Não que eu já não fique bestificado normalmente, dia após dia com uma série de coisas que nos acontecem ( a luz da geladeira continua sendo um mistério indissolúvel dentro de minha vazia cabeça), mas o que Chico Buarque é capaz de fazer com as palavras é imbativelmente (palavra que não existe. SIC, para quem se incomoda) a melhor coisa que pode haver.
Estava lendo o clássico do cancioneiro futebolístico “o Moleque e a Bola”, publicado em 98, durante a Copa da França, no “O Globo”. De algo tão trivial quanto a relação entre o moleque pobre e a bola de futebol (seja um coco, um ovo, uma laranja ou uma bola de capão) ele extrai tamanho lirismo que (não tenho outra palavra) me bestifica.
Eu tenho uma relação complicada com os artistas que admiro. Sinto como se os conhecesse por meio de sua arte e acabo buscando mais deles nas fontes disponíveis. Me peguei seguindo o Max Lucado no Twitter só por que os livros dele são maravilhosos. Até mandei mensagem em português (que ele entende) prá ver se consigo a atenção do rapaz.
A internet possibilitou esta interação mais próxima com nossos (odeio esta palavra mais que tudo) ídolos (não... não coloco o Danilo Gentili em um pedestal, apenas admiro a velocidade de raciocínio dele). Blogs, sites, vídeos no youtube, Orkut, comunidades virtuais e, agora, o Twitter. Recursos, formas de estarmos mais próximos daqueles que sentimos que podem nos passar algo, nos agregar conhecimento.
Eu procuro estar o mais próximo possível daqueles que me ensinarão algo. Quero que aqueles que querem aprender de mim também estejam ao meu lado, pois sei o valor que o aprendizado tem para a vida.
“Ídolos” (eca!) são pessoas que nos ensinam por meio de seu exemplo e vivência. Por meio daquilo que escrevem, pintam, desenham, cantam, fotografam. Hoje vou postar uma listinha de dez pessoas que influenciaram muito minha vida.

Chico Buarque – Artista competente, pensador sagaz.
http://www.chicobuarque.com.br/

Max Lucado – Autor profundo em sua simplicidade. Sem palavras
http://maxlucado.com/

Renée Maggritte – Sensibilidade para representar o real de forma irreal
http://www.magritte.com/

Henri Cartier-Bresson – De seu olho saltam momentos mágicos para cada um de nós
http://www.henricartierbresson.org/index_en.htm

Marisa Monte – voz de chuva que cai devagar no limiar da porta
http://www2.uol.com.br/marisamonte/site/abertura.htm

Tom Jobim – Passarim passarando no canto dentro de mim
http://www2.uol.com.br/tomjobim/index_flash.htm

Vinícius – elementar para entender quem sou
http://www.viniciusdemoraes.com.br/

Manuel Bandeira – delicadeza daquele que não era um bicho... meu Deus, era um homem!
http://www.astormentas.com/bandeira.htm

Leon Eliachar – O “Cairioca” que fez cócegas em meu raciocínio
http://www.releituras.com/leoneliachar_bio.asp

Brennan Manning – Pela graça conheço a graça!
http://www.mundocristao.com.br/autordet.asp?cod_autor=147

Não coloquei aqui as pessoas que conheço, com quem convivo e que são os melhores exemplos para mim. Estou postando aqui pessoas que podem te influenciar de alguma forma, esteja você onde estiver. Estes “artistas”me ensinaram algo em algum momento, e desprezar a sua importância para minha vida seria, no mínimo, displicência.
Ainda estou bestificado com o texto do Chico. Já conheço muitas coisas dele, mas este texto é muito limpo. Procurem, pois vale a pena.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Momento Mágico












(clique no título para ouvir a música)
(clique na foto e conheça a fundação Cartier Bresson)
(Foto de Henri Cartier Bresson, aquele que resume o que é momento mágico)

Sou cinegrafista há alguns anos e venho filmando eventos sociais e, por isso, tenho visto muita gente em seus momentos mais felizes. Não faço pelo dinheiro, que é pouco, mas pelo prazer de ver o sorriso de um noivo, uma lágrima no rosto de uma mãe, as mãozinhas de uma criança estendendo seus dedos e dizendo, ali, quantos anos está fazendo. Esta mágica, presente nestes momentos, me faz ver o quanto vale a pena viver.
A vida não é feita de felicidade eterna, nem de eterno tormento, mas de um mix com estas duas pontas e um monte de outras coisas no meio. Alegrias, surpresas, amizades, sentimentos, mortes, perdas, derrotas e vitórias, misturadas e entregues em nossas mãos. Quando bebemos a vida, não sabemos o que virá, mas podemos prever que o sabor final pode ser bom.
Registrar as pessoas em seus melhores momentos é uma oportunidade única de olhar para a felicidade dos outros em busca da sua. Me deixa feliz ver um noivo apaixonado, esperando, ansioso no altar, pelo seu objeto de desejo. Suas mãos transpiram, seus olhos não param, seus pés balançam em uma dança alegre de quem não sabe dançar.
Da mesma forma, a mãe que carrega seu filho nos braços para trás da mesa decorada, cercada por amigos cantando os melhores desejos para a criança. Para todos nós, “é pique!” perdeu um pouco do valor, mas para crianças é algo especial.
Estive em um casamento no sábado passado. Casal apaixonado, convidados felizes. Parecia uma festa como outra qualquer. Aí colocaram para tocar uma música especial para o casal e para os amigos.
Algumas imagens deveriam passar em câmera lenta diante dos nossos olhos para que pudéssemos captar sua mensagem de forma mais clara, mas não. Quando a música tocou, era como se crianças avançassem para a pista de dança, correndo entre cadeiras, avançando entre os outros convidados, pulando, sorrindo, cantando junto. Todos em uma mesma sintonia.
Tive uma súbita impressão de infância lembrada, momento mágico, coisa única, como se algo perdido no passado fosse reencontrado. Algo como quando jogo um io-iô e vejo algum sentido em minha vida quando ele desce e sobe em velocidade vertiginosa (era a única coisa que eu sabia jogar quando criança). Como se, voltando ao tempo da infância, encontrássemos o ar necessário para conseguir respirar no meio do mundo dos adultos.
Enquanto Billy Paul cantava, aquelas crianças grandes pulavam ao som do seu ôôôô recordando outros tempos. Para outros convidados aquilo não fez diferença, mas para eles, era um momento único.
Cartier-Bresson resume em suas imagens o que é o “momento mágico”, aquele milésimo de segundo que ficará registrado eternamente no nitrato de prata sobre o papel (por isso a imagem, um dos melhores retratos da infância que eu já vi). A revelação que tive naquele momento é a mesma de quando jogo iô-iô: carpe diem! Aproveite a vida enquanto a tem! Deus nos colocou neste mundo para sermos felizes, completos, plenos, cheios de vida e significado. Momentos como este se revestem de significado especial, e, enquanto virem o DVD, aqueles noivos e aqueles amigos lembrarão de cada momento mágico daquela festa, e cada sensação que lhes vier à memória me deixará deveras feliz por conta do resultado alcançado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Contratos com Deus


A capa da controversa "revista"


Acho que já deu prá notar por alguns posts abaixo que sou fã de quadrinhos. É uma paixão que trago da infância.
Pois bem. Lendo tranquilamente o
www.omelete.com.br me deparei com a notícia de que tem gente reclamando da inclusão de um livro do grande autor Will Eisner (que, junto de Alan Morre e de Frank Miller forma a santíssima trindade dos quadrinhos adultos) nas bibliotecas públicas escolares em São Paulo e Paraná.
Eu leio Eisner desde criança. Spirit me iniciou nos quadrinhos, Fajin me mostrou o universo dos quadrinhos adultos e outros trabalhos dele sempre se mostraram tocantes e profundos no que diz respeito a algo que os quadrinhos, até a chegada dele, não valorizava: a representação da realidade.
Acompanhei a polêmica sobre outro livro que também cortaram, a coletânea brasileira “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”, para cujo corte eu dou total apoio e respaldo. Esta coletânea tem como objetivo e propósito ser um livro de humor, e não trazer qualquer esclarecimento acerca do futebol. As palavras de baixo calão entram despropositadas, como em uma conversa de bar, o que não se encaixa no ensino acadêmico.
“Dez na área” não é um livro que se pode considerar “didático”, diferente de outras obras, como “Persépolis”, de Marjani Satrapi, que fala sobre a ascensão do regime Xiita no Irã no final do século XX, ou “Maus”, de Art Spiegelman, que recebeu um Pulitzer contando a história do pai do autor, judeu, preso em um campo de concentração. “Dez na área” não pode estar em prateleiras escolares, apesar de ser uma grande obra escrita por brasileiros, com humor, vezes refinado e vezes escatológico e raríssimo senso de propósito, mostrando como nosso amor pelo futebol se mistura com a vida.
O livro de Eisner, “Contrato com Deus”, não se encaixa neste viés. Quem conhece a verdadeira literatura de quadrinhos sabe que este é um título marcante para a história da arte seqüencial e sabe o quanto a narrativa contundente e precisa pode ser esclarecedora acerca de fatos, que acontecem em nosso país.
“Contrato” não finge que o mal não existe. Ao contrário, nos confronta com ele, mostrando o quanto nós mesmos somos sujeitos a executa-lo. Eisner não justifica, nem tenta proteger os profanadores da pureza. É com crueza e seriedade que mostra, sim, cenas fortes, que, infelizmente, muitas de nossas crianças estão cansadas de ver em suas casas.
O fato é que, contando uma história, Eisner fatia o coração dos leitores por expo-los a personagens que imaginamos ser bons, mas descobrimos repulsivos.
Fico triste que esta dualidade não interesse aos educadores brasileiros, que sempre valorizaram obras como “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo, ou “Dona Flor e seus dois maridos”, de Jorge Amado, onde cenas de sexo são descritas de forma clara e aberta. Interessante que li “Lolita”, de Vladmir Nabokov pela primeira vez em uma biblioteca pública.
São as imagens que incomodam? Liguem suas TVs à noite. Vejam as novelas que tratam de “assuntos atuais” e digam-me que Eisner continua sendo impróprio.
Fico triste ao ver o moralismo exacerbado de certos irmãos querendo discutir o que não conhecem. Eu posso falar de quadrinhos. Eu os leio desde sempre e não deixei de Le-los por conta de Jesus.
Nossos líderes foram queimados por Judeus nos primeiros séculos. Fomos perseguidos pela inquisição anos depois. Tivemos nossos livros queimados em praças na Alemanha nazista, fomos rejeitados, rechaçados, afastados, chutados, humilhados, cuspidos e censurados por onde passamos. Hoje, sendo aceitos pela sociedade, a única voz que temos é a daqueles que censuram, humilham, rechaçam, refugam, chutam (literalmente) e cospem com o mesmo vigor com que sofreram tais perseguições.
É pena. Perdem por não querer crescer e aprender. Eu não tenho vergonha de ser crente, mas de, infelizmente, ser comparado a alguns destes “personagens” interessantes que temos no mundo gospel. Nossa irrelevância neste mundo chegou a níveis tais que somos mais motivo de chacota, por nossas “excentricidades” do que de crítica por nossos posicionamentos. A solidez dos argumentos de alguns de nossos “porta-vozes” pode ser comparada à espuma do mar, ou ao vento que sopra. Quase igual a zero.
Leiam Eisner antes de falar dele. Não critiquem o que não conhecem. Quadrinhos são arte, como literatura ou cinema, e a arte é a livre expressão da realidade que nos permeia, interpretada pelos olhos daqueles que a vêem.
Cristãos, cresçam e lutem por causas que valem a pena, pelo amor de Deus.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Retrato em Branco e Preto


Descubra se é daltônico: tecle no título e faça o teste.


Domingo descobri que sou daltônico. Na verdade foi mais uma constatação de algo que eu já sabia do que uma descoberta.
Teoricamente, eu deveria ficar chocado com esta realidade, afinal, tudo em que trabalho vai cor, e não enxerga-las limita meu campo de ação. Sem as cores certas, as imagens de uma filmagens ficam irreais, um layout de jornal fica desigual, um logotipo perde a coerência.
Porém, sempre consegui compensar isso, pois sabia que meus olhos não eram confiáveis no que tange a ver as cores de forma correta. Minha limitação é pequena, está nos verdes, cinzas, azuis e lilazes, que não consigo discernir com facilidade, mas está nas cores fundamentais, o que complica bastante meu trabalho.
Aprendi a não confiar em meus olhos. Quando bato o branco em uma câmera, quando escolho um azul em uma paleta de cores, sei do risco que corro de estar vendo uma coisa e avaliando de outra forma. Nesta hora confio em meu cérebro e em algo que vai muito alem da capacidade de olhar: a capacidade de crer.
A capacidade de crer em mim mesmo é derivada da confiança que Deus tem em mim. Se Ele permitiu que eu trabalhasse com cores, sabendo que eu ia desenvolver este problema, é por que ele sabe que eu ia encontrar um caminho para compensar tal deficiência. Compenso nas outras cores.
Quando temos diante de nós parâmetros pessoais nos quais não podemos confiar, temos que buscar outros parâmetros em que podemos confiar para conseguir enxergar o problema e buscar uma solução. Em meu caso, o parâmetro que eu conheço é o vermelho.
Na vida é igual. Se, em algum lugar, eu tenho um parâmetro em que não posso confiar, quer seja comportamental, social, psicológico, espiritual, preciso mudar o foco e saber, por outros parâmetros, se o que estou fazendo é certo ou errado. Uma atitude que não enxergo como pecado, mas que o é, se eu olhar outra pessoa fazendo, por exemplo. O parâmetro usado para os outros é diferente dos que uso para mim mesmo.
E não adianta dizer que é mentira, por que não é. Usamos nossa “daltonia espiritual” para não vermos a cor do pecado que cometemos. Usamos “daltonia social”, para não vermos o quanto machucamos nossos pares. Usamos “daltonia psicológica” como desculpa para traumas que insistimos em carregar por autopiedade. As cores dos nossos erros são mais preto e branco para nós do que as cores dos erros dos outros.Onde você é daltônico? Ou até míope, quem sabe. Analise sua vida por outro ângulo. Encontre seu vermelho para saber quais são os parâmetros que podem mudar a sua vida.