quarta-feira, 4 de março de 2009

Que graça teria a vida sem sorvete?


Em um dia de calor absurdo como hoje (39º aqui no centro de Santos), nada como um bom sorvete de pistache descendo ardido na garganta. Como poderia não dizer “que graça tem a vida sem sorvete?”
Sorvete é uma coisa que, em sua essência, faz um mal danado. Pura lactose, gordura e açúcar, o rei dos doces dos gordinhos, o pesadelo dos atletas (como podem ter criado algo tão bom!) ele armazena em si um exército de lipídios prontos para tomarem de assalto o corpo daquelas beldades que evitam a celulite como o diabo evita Jesus.
Mas não adianta, diante de uma casquinha saborosa só podemos dizer “venha, celulite! Pode vir! Eu não vou perder o prazer pela vida por que dizem que você faz mal!”
Temos a liberdade de escolher as celulites guardadas dentro de um sorvete de creme (ou limão, dependendo do gosto). Isto é um presente de Deus chamado “Livre Arbítrio”: a capacidade de escolher, ponderar sobre assuntos, a capacidade de pensar de forma independente e, acima de tudo, livre.
Liberdade de tomar um sorvete no calor de quase quarenta que faz lá fora, mesmo eu estando acima do peso. Liberdade de escolher a minha esposa, que Deus colocou no meu caminho e disse “vamos ver no que vai dar”, mesmo sabendo que nós seríamos felizes para sempre.
Não creio em predestinação, mas em preciência de Deus. Como se ele soubesse do que vamos fazer, mas esperasse que o surpreendêssemos o tempo todo. Afinal, não tem graça nenhuma pensar que você foi escolhido para ir ao céu ou ao inferno antes mesmo de saber escolher, e que suas atitudes e ações são reflexos de uma programação anteriormente inserida em sua mente, como na música da Pitty. (selecione o título do post)
Descobrir que somos um hardware carregando um software pré-programado me desestimulou durante muito tempo. Vi a escolha do meu sabor preferido de sorvete (pistache) como um reflexo, e não como uma escolha consciente e deliberada. E tenho visto pessoas vendendo a imagem de que nós não temos opções e que, como não sabemos qual a nossa programação, devemos agradecer por cumprir nosso papel.
Fios presos às nossas articulações, como em marionetes, nos mantém erguidos, de pé, andando para onde o sistema quer nos levar. Bonecos, massas de modelar permitindo que outras pessoas tomem decisões em nosso lugar. Fantoches seguindo conforme o status quo, querendo “aquela blusa”, “aquele tênis”, “aquele carro”. E por que permitimos isso?
Uma frase, um tempo atrás, me intrigou. “liberdade é conhecimento. Você não pode dizer que escolheu o sorvete de limão se você só conhecia este sabor”. Sem saber o sabor dos outros sorvetes, não há como dizer se gosto ou não. A consciência só vem com o conhecimento, e como diria Freud “Só o conhecimento traz o poder”.
Que poder é este de que estamos falando? Quebrar as correntes que nos prendem à predestinação, romper as cordas que nos mantém suspensos e passar a caminhar com nossas próprias pernas, escolhendo, chegando a conclusões, decidindo.
A predestinação é um conceito falho em sua essência, pois contraria o fato de que Deus quer que escolhamos, por nossa própria vontade, ama-lo. Se assim fosse, Ele saberia das nossas escolhas e das nossas tendências, e tomaria a decisão por si mesmo. isso seria o ato de um Deus cruel, que privilegia uns filhos de sua criação em detrimento de outros.
Ele sabe as nossas escolhas? Creio que sim. Agora, mais por conhecer as nossas tendências do que por predestinação, em minha opinião.
Sei que isto é um tópico bastante polêmico e que eu estou sugerindo um paradoxo, mas é como acreditar na evolução das espécies mesmo sendo cristão, ou no Big Bang. Basta que a interpretação seja feita da forma correta.
Eu imagino Deus se divertindo com a sua obra, compartilhando do seu crescimento e de suas adaptações. Vejo o Criador como um capacitador dos seus filhos, mostrando para eles o seu infinito amor por meio das escolhas que eles podem fazer. Imagino a grande explosão de amor bilhões de anos atrás, quando a “terra era sem forma e vazia”, mas no coração de seu Criador era um planeta cheio de vida.
Eu imagino tudo isso e isso não fere a minha fé. Ao contrário, a fortalece mais ainda. Deus nos ama tanto que nos deu a sua característica mais marcante, nos fez vivenciar, por meio da capacidade de escolher, um pouco do que Ele mesmo é: um Deus senciente e consciente, capaz de tomar o lugar de sua criação e fazer a escolha mais difícil: experimentar a morte para dar a vida.
Costumo dizer que carregamos em nosso interior uma fagulha do imenso poder de Deus. E esta fagulha é o bastante para vivenciarmos toda a sorte de experiências maravilhosas proporcionadas por nosso criador. Ter consciência de que somos o receptáculo desta bomba nuclear capaz de construir um universo de possibilidades nos faz melhores. Saber como usar este poder, então, isso sim é evolução.
Afinal, o que seria da vida sem escolhas? O que seria da vida sem sorvete? Talvez amanhã eu mude o sabor preferido e saber que esta escolha foi conseqüência de um ato deliberado e não de uma programação previamente inserida em meu mainframe me faz um pouco mais parecido com o que Deus espera que eu seja: um ser senciente e consciente, que conhece os sabores dos sorvetes da vida, mas escolhe um sabor como preferido, por que é o que mais agrada.

Um comentário:

  1. Olá... Que a cada amanhecer , seja um momento pra voce sonhar, pensar e renovar seu amor pelo autor da vida.

    Que cada entardecer o Senhor realize teus sonhos e te cubra de bençãos
    e ao anoitecer, voce possa agradecê-lo pelas bençãos e graças recebidas.
    fique na paz

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