segunda-feira, 2 de março de 2009

Todo Carnaval tem seu fim


Antes de qualquer coisa, feliz 2009, Brasil! Este país, assim como os Judeus, os Muçulmanos, os Incas e os Chineses, tem épocas de início de ano diferentes. Aqui, é sempre no final de fevereiro, após as festas pagãs do carnaval.
Começamos o ano agora e ninguém mais lembra do que aconteceu no hiato que é o mês de janeiro. Na escala brasileira de tempo, o ano é composto de dez meses, com um intervalo de um mês e meio entre um ano e outro.
Este intervalo prejudica demais nosso país, comprometendo, desde a produção, até a formação de nossas mentes pensantes. Desde cedo, ainda na escola, a mentalidade do gosto pelo feriado é alimentada.
Diferente do resto do mundo, não gostamos de ter que ganhar dinheiro, nem de ter que aprender, nem de ter compromissos. Somos livres, leves e soltos, filhos da cruza entre Macunaíma e algum político alagoano, ou maranhense de vastos bigodes.
Pois é, brasileiros e brasileiras... 2009 está aí, começando agora. E aí? O que vamos fazer? Esperar 2010 chegar, de braços cruzados, olhando a crise passar na avenida do mundo, ou vamos tomar parte do desfile, mostrando a nossa cadência (ou decadência, não sei bem), tentando, ao ritmo alucinado dos passistas de carnaval, tirar alguma vantagem das dores do mundo?
Pandeiro em riste, o brasileiro é o eterno malandro, continuamente forçado a descansar pelas vicissitudes da vida. Só em 2009 são mais de 10 feriados em sextas-feiras e sábados. Mais desculpa para estendermos as redes da miséria sobre a possibilidade de crescimento.
A verdade é que o tempo passou na janela e nós, Carolinas, não vimos nada. Preferimos fofocar a crise alheia a ver aquela que estava bem dentro de nosso Brasil: a crise de caráter que há anos nos assola. Ou o país acaba com a saúva ou os políticos superfaturam o serviço de dedetização.
Deixa eu brincar de ser feliz? A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval, como diria o poetinha. Orfeus encantados com os grandes adereços e as imensas bundas artificiais em uma festa artificial, de pessoas vazias correndo as ruas a procura de satisfação que não existe, se iludem e se acabam no período em que reis gordos governam nosso triste país.
A tristeza deles não tem mesmo fim. Quando paramos e pensamos que os arlequins, as mulatas, os mestre-salas, as porta-estandartes, reis momos e rainhas de baterias só existem por três dias, mas imperam em nossos corações durante um ano inteiro, vemos o quanto permitimos que nossa felicidade se desvaneça em uma ilusão à toa.
Portanto, brinquem, sapateiem, pulem, bebam, beijem na boca, como diz a música. E depois, voltem para suas vidinhas medíocres e sem significado, com os narizes pintados de cor da pele, pois a verdadeira cor (o vermelho, dos palhaços que são) precisa ser camuflada pelo engano de si próprio.
Para os que, como eu, não gostam do intervalo de um mês e meio, vamos continuar de mangas arregaçadas, esticando nossas mãos à procura do trabalho sério que este país precisa que seja feito. Aos que esperaram a banda passar, continuem aí, cantando coisas de amor. Quando a festa acabar, quero ver quem vai limpar os confetes e as lágrimas do chão.

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