sábado, 6 de junho de 2009

Rei Morto, Rei Posto

Steve Rogers Morto em 2007


Uma das coisas que eu gosto nos quadrinhos se chama maniqueísmo. O mundo simplificado de forma a o entendermos claramente. O bem é o bem e o mal é o mal. Entendemos isso se apenas olharmos os quadrinhos.
Como esta nunca foi uma arte com o objetivo de mimetizar o mundo real (homens voam, alienígenas existem, alô!), mas sim criar um novo universo de possibilidades e, possivelmente, explicar nossa existência por meio de mitos, os quadrinhos nos inspiram a ser melhor do que somos e a buscar a essência do verdadeiro heroísmo.
Vejamos algumas personagens que eu sempre gostei. Super-homem e Capitão América. São, possivelmente, os mais odiados nos dias de hoje, graças ao ódio anti-americano que tomou o mundo (azar o das outras nações que abaixaram suas calças para o Tio Sam no passado e agora não podem lidar com isso). São meus heróis favoritos, pois representam valores incorruptíveis, como lealdade, superação, dedicação, entrega.
Kal-el é enviado à terra com o objetivo de inspirar a humanidade a ser mais do que é. Ele representa tudo em que podemos nos tornar e muito mais. Kal-el está sempre um passo à frente da humanidade, não a deixando para trás, mas puxando-a consigo, avançando junto de nós.
Steve Rogers era filho de um alcoólatra que viva na cozinha do inferno em Nova Iorque e, por meio de um experimento do governo, ganhou superforça, agilidades, etc e tal (o pacote completo menos a capacidade de voar). Com um uniforme azul e um escudo de metal ele invadia os campos de batalha e participava das grandes lutas contra a Alemanha durante a segunda guerra mundial. Suas cores representavam os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade presentes no iluminismo, na revolução francesa e nas cores da bandeira americana. Sua imagem patriótica extrapolava os símbolos nacionais. Ele era um símbolo em si.
Por representarem muito mais do que eram, na realidade, e por terem sido usados como veículos para um sistema opressor, seu valor foi se perdendo ao longo do tempo, mas todos gostaríamos de ver heróis assim no mundo real.
Tenho princípios e não abro mão deles. Não tenho um escudo, nem vôo mais rápido que uma bala, mas acredito em Deus, pátria e família, e podem me chamar de conservador que eu não ligo, tenho certeza de minha fé e de minhas convicções.
Mas o fato com os super-heróis é que eles representam nosso ideal e nosso objetivo. Compramos gibis para lermos histórias que gostaríamos que acontecessem conosco. Quem não gostaria de ter superforça? Ou quem não ficaria feliz em ler o pensamento dos outros?
Porém, tenho visto o perfil de herói mudando aos poucos. Um pouco por causa do envelhecimento natural dos leitores de quadrinhos (uma nova geração não foi formada nos anos 90, então os leitores ainda são os mesmos dos anos 80) e um pouco por causa da desilusão com os valores que falei acima. Grande parte da população deixou de acreditar em Deus (ou em uma força externa que vem resolver nossos problemas, venha de kripton, ou venha do céu), as pessoas não valorizam tanto a família (um bem que um certo cabeça de teia valoriza bastante) e poucas pessoas acreditam nas nações e em sua soberania (olha os EUA aí de novo...)
Cada vez mais os heróis tradicionais estão dando lugar a anti-heróis cujos valores são ambíguos e egoístas. Valores como egoísmo, sexismo, rancor, vingança e violência são passados para os leitores de forma cada vez mais clara. Os quadrinhos perdem sua aura de reflexo de desejos e passa a assumir uma cara de reflexo da realidade.
Nesta busca por refletir a realidade, mataram um mito. De forma absurda (um atentado a bala), mataram o Capitão América. Steve Rogers jazia no chão, na frente do congresso americano graças a um tiro de uma pessoa inesperada.
A morte do mito, a queda do “Sentinela da Liberdade” é um símbolo enviado pela editora dizendo que os tempos são outros, que os mitos que acreditávamos que poderiam representar nossos melhores ideais morreram e que é hora de encararmos a realidade com os olhos humanos.
Não à toa, a editora do Super-Homem o enviou definitivamente para fora da Terra. vivendo em outro planeta desde que Lex Luthor o envenenou com uma carga imensa de raios solares, o alter ego de Clark Kent como que deixou o mundo na mão dos humanos, subindo aos céus no meio das nuvens (parece alguém para você?)
Pois é... o super sempre foi um mito que remeteu à bíblia sagrada. Jerry Siegel e Joe Shuster eram judeus e criaram o herói que foi enviado em uma “cestinha interplanetária” para libertar a humanidade de todos os males que a aprisionam.
Nossos heróis nos deixaram e sentimos sua falta. Não por que não estão mais nas paginas dos gibis, mas por que, em nossos corações, já não há mais espaço para eles, e, infelizmente, sabemos disso. O mundo não é o mesmo, onde o maniqueísmo é possível.
Mas, na mesma velocidade com que morrem, heróis renascem e ressurgem das próprias cinzas, assim como valores. Em momentos de crise precisamos de símbolos em que possamos nos apegar, âncoras que possam deixar-nos mais seguros. Obama é um destes símbolos, dizendo que a mudança é possível, lutando, como super-herói, para conseguir manter unido um planeta de pessoas que pensam tão diferente, mas que têm os mesmos ideais.
Lindo pensar que o Capitão América pode ressurgir. Diferente de nós, os heróis não tem as limitações que nos são comuns e isto nos faz olhar para eles com esperança de que um novo nascer, uma nova chance nos é dada também.

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