segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Como ler este BLOG?

1ª coisa: Parece obvio, mas não é. Leia o blog de baixo para cima. Os primeiros posts explicam qual o propósito deste trabalho e ambientam você no universo que estou querendo que você entenda.
2ª coisa: Não pense que vai me entender, ou entender a si próprio depois de ler o que escrevi. Não estou escrevendo um mapa, mas explorando territórios desconhecidos dentro de mim, que talvez sirvam para você também.
3ª coisa: Na vida, não há respostas fáceis que levem ao certo. O grande sábio Dumbledore dizia para Harry Potter “Na vida há as escolhas fáceis e as escolhas certas”. Eu resolvi fazer as certas, por mais difíceis que sejam. (eu não leio Harry Potter e nem indico para ninguém)
4ª coisa: procure por você honestamente, sem esconder-se atrás de desculpas. Não se vitimize e nem ataque de forma vazia. Ouça, leia, absorva o que te servir e o que não servir, jogue fora.
5ª coisa: Este blog é para você, e não para o seu vizinho, a sua namorada, o seu colega de trabalho, seu patrão que te persegue. Pare de transferir para as outras pessoas as suas frustrações e encare, como homem ou mulher que você é, a pessoa que você realmente precisa ser. (Mas, se você conhecer alguém para quem seria interessante a leitura deste blog, indique!)
6ª coisa: Deus tem muito mais para você do que você está imaginando. Minha viagem serviu para mim e tento te mostrar de que forma uma viagem pode servir para você.
7ª coisa: Transparência, honestidade, força de vontade, caráter. Cada uma destas características eram ausentes em mim, mas resolvi vencer uma de cada vez (exatamente nesta ordem) para conseguir me tornar alguém melhor. Ainda há coisas que preciso melhorar, mas já avancei bastante, graças a Deus.
8ª coisa: Os títulos guardam links interessantes que têm ligação com o assunto tratado. Assista aos vídeos, visite os sites, leia as letras de músicas. Deixe-se envolver pelo universo que envolveu minha viagem. Deixe-se ser tocado, pois isto faz toda a diferença.
9ª coisa: As imagens foram todas trabalhadas, de alguma forma, por mim, mas não são de minha autoria, porém, infelizmente não sei quem são os autores. Fico devendo esta.

10ª coisa: Conheça Renée Magritte. Isso mudou minha visão de mundo, significado e simbolismo. E tudo é significado ou simbolismo. Conheça, também, Henri Cartier-Bresson, que desenvolveu a compreensão sobre o que são Momentos Mágicos e como captura-los pela lente de uma câmera.

11ª coisa: A mais importante de todas: conheça Jesus. Deixe que Ele se apresente para você. Deixe o preconceito de lado, pois não estou te convidando para ir “na igreja” ou “ser crente”, mas pedindo para você permitir que Jesus te mostre qual é a dele. Se você conhece alguém que O conhece, peça para ser apresentado. Se não, apresente-se a ele em sua casa, ajoelhado ao lado de sua cama, ele vai falar com você. Ele não deixa ninguém sem resposta.

E, por fim, que Deus te abençõe! Tenha uma ótima viagem!
Quando chegamos ao destino de nossas viagens, é como uma etapa que concluímos. Como se uma fase fosse vencida e outra fase começasse a partir dali.


Mas os detalhes da viagem ficam em nossa mente. Seja a vida passando pela janela do ônibus, ou sob as asas de um avião. Seja o vento batendo no rosto na janela do carro, seja o dedo estirado na beira da estrada, procurando chegar, sobre rodas, onde, sobre os pés, é longe demais.

Meu lar é onde estão meus sapatos, e meus sapatos estão em meus pés no momento, e para onde eu for, é lá que tenho que estar. Minha alegria não depende de ter, ser ou fazer mais do que os outros, mas agregar valor às vidas à minha volta.

A prioridade em nossas vidas, para Deus, é que busquemos a felicidade. Mas ele quer que a busquemos no lugar certo. O que vou falar pode ferir alguns ouvidos, mas é a verdade. Deus não quer que sejamos prósperos, ou que sejamos bons em algo. Deus quer que sejamos felizes, e se, para que nossa felicidade seja completa, ele precisar tirar algo de nós, então ele tirará. Não por maldade, mas para nos limpar.

Não quero ser melhor, nem fazer algo a mais. Esta viagem não serve para mim, meu itinerário é outro.

Cheguei ao fim desta viagem. Descobri quem sou e o que tenho que fazer? Sei o que Deus quer de mim? Não. Porém, descobri, em minha caminhada, que estes objetivos não são um fim em si, mas um caminho para a felicidade, e este caminho preciso caminhar com aqueles que amo.

Se sou importante para eles? Espero que seja tão importante para as pessoas que amo quanto elas são importantes para mim. O mundo não gira em torno de mim, eu giro em torno do mundo e preciso fazer com que ele mude de rota. Todos estão surdos, como diria a música de Roberto Carlos.

Todos estão orgulhosos demais, egoístas demais, feridos demais. A mídia em geral vende uma imagem de que aqueles que possuem são felizes, quando não são. Materialismo e pressa invadem nossas vidas de tal maneira que as coisas realmente importantes passam a ser deixadas de lado em detrimento das coisas urgentes.

Urgência e importância. Pressa e significado. Materialismo e relevância. Opostos absolutos, como bifurcações em nossa estrada que nos levam para caminhos diferentes. Não quero passar pela vida, como um ônibus que passa pelo ponto deixando a gente ali. Quero ter importância, significado e relevância, pois são as únicas coisas que realmente nos deixam felizes conosco mesmo.

É irônico, não? Só conseguimos ficar felizes conosco quando influenciamos as pessoas à nossa volta. Inconscientemente descobri que a minha felicidade está atrelada à felicidade dos que amo e a minha realização está ligada diretamente à realização dos que me cercam.

Só sou feliz aqui dentro quando olho para fora. Deus me ensinou que a melhor viagem interior que eu poderia fazer é à minha volta. Meu mundo se expandiu com este blog e quero agradecer a todos que me acompanharam até aqui nesta viagem em busca do autoconhecimento.

Como disse, não cheguei a conclusão nenhuma até agora, mas sei de uma coisa: Deus sabe exatamente qual o caminho que eu preciso tomar. Até que ele revele, pego meus sapatos e calço em meus pés. Meu lar é onde estão meus sapatos, e meus sapatos estão aqui e agora, e não em qualquer outro tempo ou qualquer outro lugar.

Adiante sonhos. Atrás, poeira.


Deus te abençoe!

João Thiago

Viajante

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tudo o que é vivo, morre

Este mês uma amiga morreu. Foi a experiência de perda mais próxima que enfrentei em minha vida.

Nunca perdi alguém tão próximo. Diferente da minha esposa, que desde cedo sabe o que é perder as pessoas que ama. Seu pai morreu quando ela era criança e esta lembrança ainda vagueia à sua volta. Ela ainda perdeu amigos e avós durante toda sua vida. Ela se apega às pessoas e vive como se amanhã elas fossem morrer.

Eu, diferente, não me apego às pessoas. Não que não dê amor, mas a falta da experiência da morte me fez totalmente perene diante da sua certa, triste e violenta realidade.

Até certa indiferença me marcava. Dureza e pragmatismo. Eu era muito seco.

Até a morte desta amiga.

A morte é uma ruptura na trama natural da vida. Mas uma ruptura tão natural quanto a trama toda à sua volta. Não há nada de sobrenatural na morte, mas ao contrário, há uma constatação de que a natureza segue seu curso eternamente, pois, como já diria Chicó, personagem do Auto da Compadecida, tudo o que é vivo, morre.

Inexorável esta força da natureza. O curso do rio da vida nos mostra que não estamos livres, nenhum de nós, da fatídica hora de encarar o fim. Porém, quantas vezes fingimos que este fim não chegará?

Pensamo-nos imortais, eternos. Imaginamos que podemos fazer o que for e não seremos atingidos. Vemos-nos como grandes guerreiros vencedores de todas as batalhas.

Porém, e se Deus resolver abreviar nossos dias? Como vou olhar, por exemplo, para a imagem do meu pai ou da minha mãe dentro de um caixão forrado de flores?

E eu? Até quando durarei? Há alguns meses venho sentindo umas pontadas no coração. Aos 28 anos isto é mais perigoso, pois o impacto é mais violento, do que aos 40. Conduzi minha vida longe da morte, evitando a dor e a tristeza. Será que terei de encará-la tão cedo?

Demonstrei até agora certa indiferença frente à dor da perda dos outros. Porém, isto se dá por causa da ausência da experiência. Eu julgava, em meu entendimento, que a dor não é tão grande a ponto de deixar as pessoas da forma como ficam e que a experiência da morte é distorcida pela cultura judaico-cristã, que demonstra, de forma errada, que é uma experiência de perda, terror e tristeza.

“Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro”. É o que dizia o apóstolo Paulo quando lhe perguntavam se tinha medo de morrer. Ele sabia qual era sua missão e estava determinado a cumpri-la. Como diria Montesquieu, devemos chorar às pessoas quando nascem e não quando morrem. Nascer é expor-se a este mundo triste, enquanto morrer é encontrar a paz tão buscada em todas as nossas lutas.

O que escreverão em meu epitáfio? O que estaria sobre o meu esquife? Quantas coroas estariam à volta do meu caixão? Quantas mãos disputariam as suas alças? O que as pessoas diriam em minha derradeira despedida?

Pensei nisso enquanto carregava a alça do caixão da minha amiga. Não perdi muitas pessoas importantes. Esta foi uma das mais marcantes e tocantes despedidas de que me recordo. Não tive coragem de olhar seu caixão. Não gosto da cara que a morte nos dá. Cara de abandono e solidão. Não nos faz justiça.

Só acreditaria em um Deus que soubesse dançar (Nietsche)

Para saber mais sobre a banda acima, acesse aqui
Para saber mais sobre Nietzsche, acesse aqui
Para saber mais sobre Deus, acesse aqui
O ser humano (eu sempre começo os textos falando do ser humano) é uma racinha egoísta e preocupada consigo mesma.

Porém, temos nossos grandes momentos de altruísmo, entrega, e coletividade e os momentos em que enxergamos que todos somos um e que estamos todos conectados, ligados em uma mesma vibração, que é a velocidade do coração de Deus.

O que me trouxe a escrever este texto hoje foi ter entrado na internet, no site do Jacaré Banguela (é, eu fico investindo meu tempo em entretenimento de qualidade às vezes. É o famoso ócio criativo) e me deparei com um projeto muito interessante, que me mostrou exatamente o aspecto de que estou falando: estamos todos ligados em uma mesma vibração.

Um diretor de filmes resolveu sair pelo mundo com 7 músicas conhecidas de todos debaixo do braço, parou nas esquinas, com os músicos das ruas e gravou suas interpretações. criou, assim, o Playing for Change, que quer mostrar este princípio básico: todos somos cordas de um mesmo instrumento.

O trabalho me mostrou o quanto a música nos conecta, nos faz ser um só. Como em uma tribo, se movendo pelo instinto. Como músicos, que se entendem entre si.

Estes humanos excepcionais nos mostram o quanto uma linguagem universal pode tocar diferentes culturas e ser usada para mostrar o quanto nosso mundo é pequeno e o quanto somos próximos. Estamos conectados. Fazemos parte da mesma banda.

Quando entendemos que este mundo é uma esquina, onde o Senhor toca com maestria sua gaita, só nos resta uma decisão a tomar.

Dançar.

E Deus dança conosco.

Teu passado te condena

O Paulo era um amigo da minha família lá em Itariri. Quando a gente morou no sítio (eu morei em um sítio, caso você não tenha lido o primeiro post) ele era caseiro de um vizinho nosso, e sempre solícito, ajudando todo mundo. Paulo vinha de Pernambuco, tinha uns olhos azuis profundos, um corpo franzino, mas musculoso, andava de cabeça baixa e não gostava de muita bagunça. Seu fraco eram as mulheres, e ele sempre aparecia com uma diferente que fazia ele de gato e sapato e deixava ele sem nada no final.

O Paulo tinha vindo fugido de Pernambuco. Tinha feito coisa feia por lá. Tinha cabra da volante caçando ele pelo Brasil inteiro. Quem via o Paulo que a gente conhecia não imaginava que seu passado era coberto de sangue e dor. Tristeza que ele não podia conter nos olhos.

Uma noite, graças à cachaça e à nossa conversa, Paulo nos contou o que aconteceu. Ele era matador de aluguel, destes que os coronéis contratam quando querem tirar um desafeto do caminho. Tinha sangue ruim quando estava por lá, mas, quando veio prá cá, se acalmou.

Mas a gente sabia que ele tinha um trinta e oito guardado no quarto e que dormia com o facão enfiado em baixo do travesseiro. O Paulo era do tipo que não fechava um olho junto com o outro, não olhava nos olhos das pessoas, andava sempre dois passos atrás de você, para te proteger e observar.

Uma noite, no restaurante, um bando queria nos assaltar. Prepararam tudo para fazer o roubo. Só não contavam com o próprio coração mole de um dos membros, que era meu amigo, e para quem, naquela noite, eu paguei uma cerveja, pois já sabia os planos. Depois que fechamos, ficamos tensos, não conseguindo dormir.

Paulo me viu na varanda de madrugada.

_ Se aquete, Joãozinho. Vá dormir. Não vai acontecer nada.

Na penumbra da rua, vi, durante toda a noite aquele vulto escondido. Sabia que era o Paulo e que estava ali para evitar que qualquer mal acontecesse.

E funcionou.

Meu “amigo”, que queria nos assaltar foi “visitado” pelo Paulo, a gente descobriu depois. De noite, dormindo, ele só sentiu o golpe da face avessa do facão descendo em sua testa e o aviso. “Não faça nada, não mexa em nada e você sabe do que estou falando”. O vulto saiu do quarto e o cidadão nunca mais tentou fazer qualquer coisa contra nós.

Paulo, por amor a nós, permitiu que sua natureza anterior se manifestasse. Ele se arriscou a encarar seus demônios interiores para que nós ficássemos protegidos, e por isso lhe sou eternamente grato.

Nos dias seguintes, ele continuava a mesma pessoa de sempre. Os mesmos olhos fugidios, a cabeça baixa, os passos lentos e a voz calma, como se nada tivesse acontecido. Paulo não negava quem era. Ao contrário, encarava seu próprio mal para proteger aqueles que amava.

Já não o vemos há alguns anos. Não sei o que anda fazendo, mas sei que nunca mais sofremos qualquer ameaça enquanto moramos lá.

Diante de uma mudança drástica de vida nós escondemos nosso passado, fingindo que ele nunca aconteceu. Paulo me mostrou que, mesmo as piores coisas do meu passado devem ser usadas de alguma forma no presente para construir um futuro melhor.

Eu lembro que ele falava da sua história com amargura, se arrependendo do mal que havia feito lá atrás. Mesmo assim, sabia tirar proveito de seu “conhecimento”. Sem precisar voltar às “velhas obras”, soube pegar o melhor de sua experiência e aplicar em sua vida presente. Sua atitude foi de confiança de que seu histórico falaria por si só.

Porém, e quanod só conseguimos trazer de nosso passado aquilo que ele tem de ruim? Quando as nossas memórias nos lembram do mal que causamos.

Sou visitado pela culpa por velhos pecados às vezes. Certa vez acabei com a venda de uma colega de loja por que falei demais sobre um cliente, e falei em voz alta. Eu o conhecia de Itariri, e falei o que não devia. Ele pegou suas coisinhas e foi embora, sem gastar um tostão.

Até hoje eu sinto vontade de pedir desculpas para ele. Ao invés de pegar no meu passado as boas coisas e aplicar, eu preferi usar o meu pior e soltar minha língua.

Passado é algo que nos persegue onde quer que formos. Cabe a nós saber o que vamos usar dele no presente. Que lições podemos trazer para nossas vidas.

A beleza da lição que aprendi com Paulo (que, óbvio, não se chama Paulo) é que, quando olhamos para trás e sabemos separar a amargura da prática de vida, conseguimos tirar grandes lições.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pão e Circo


Tecle no título e veja a entrevista mais inteligente que o Datena já deu.
Tecle na foto e compre uma briga que vale a pena. Eu não sou adepto, mas apoio!


Desde tempos imemoriais o homem se diverte com a desgraça alheia. Um padrão triste de comportamento que, geração após geração, se repete, deixando-nos envergonhados de tamanha carnificina em prol do entretenimento.
Sabedores deste fato, os governantes sempre lançaram mão de recursos cruéis para aumentarem sua popularidade. Gladiadores lutavam até a morte no império romano, homens eram crucificados por seus crimes, mulheres apedrejadas por seus erros.
Lançavam mão de tais recursos, também, para controlar o povo que, assistindo a tais eventos, vendo que os envolvidos se feriam, sentiam-se mais “aliviados” e consideravam seus problemas mais simples, visto que não era necessário sangue para resolve-los.
Até hoje é assim. Na TV, vemos desde o sofrimento mental de Susan Boyle e sua evidente doença até Datena falando sobre bandidos foragidos no centro de São Paulo. Uma leve zappeada pelos canais de nossa TV aberta é o bastante para ver os gladiadores do nosso cotidiano e seu banho de sangue contínuo e ininterrupto.
A TV nos oferece este “ópio desnecessário”. Um bálsamo mentiroso que nos vicia e nos prende diante dela, em uma relação de amor e ódio que apenas expõe a miséria humana e a necessidade de simplificar nossos relacionamentos.
De linguagem dinâmica e rápida, calcado no carisma (nem sempre cativante, mas sempre marcante) de seus apresentadores, programas como o Brasil Urgente ainda existem, e teimam em encher nossas TVs da miséria humana mais degradante.
Os pobres de espírito, tristes, desolados, solitários e abandonados de todos os lugares ainda assistem a estas desgraças, enchendo suas mentes de fatos tristes e opiniões extremas.
São favoráveis à pena de morte quando lhes convém. Querem prisão perpétua quando é interessante. Vêem como heroísmo os linchamentos e como vilões a maioria dos policiais que apenas está fazendo seu trabalho. Programas assim colaboram com os bandidos, que só querem publicidade e estão longe de receber a punição merecida.
Aqui na empresa onde trabalho uma moça sempre traz as “boas novas” que o Datena apresenta. Crianças mortas de fome, seqüestros relâmpagos, incêndios, assassinatos, policiais corruptos. Sempre a mesma história, com diferentes personagens e ambientes, mas sempre com o mesmo final: tragédia. Fico pensando em como ela lida com os próprios problemas. A televisão é o ópio do povo, e ela já está viciada.
Como disse, desde tempos imemoriais ver o problema alheio é motivo de entretenimento, pois nos isola de nossos próprios problemas, nos transformando em conformistas deterministas. Frases como “este mundo não tem jeito”, “disso para pior” são comuns na boca destas pessoas, que agradecem a Deus pelas próprias misérias serem tão pequenas perto daquelas que vêem na TV.
E na TV, os gladiadores de hoje ainda lutam. Sangue ainda escorre pelas telas e o som dos tiros pode ser ouvido a milhas de distância. Enquanto a miséria à sua volta não é tratada, o cidadão zappeia sua TV em busca de uma miséria alheia, à qual ele está alheio, mas da qual quer participar, pois não vai piorar sua vida e ele vai poder comentar algo com os outros “cidadãos padrão” que estão à sua volta. A “máquina de fazer doido” continua a atacar impiedosamente, e o cidadão, coitado, continua parado, na mesma, apenas recebendo os golpes e pedindo mais.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Meus "Ídolos" de carne

O talento do Chico me bestifica. Não que eu já não fique bestificado normalmente, dia após dia com uma série de coisas que nos acontecem ( a luz da geladeira continua sendo um mistério indissolúvel dentro de minha vazia cabeça), mas o que Chico Buarque é capaz de fazer com as palavras é imbativelmente (palavra que não existe. SIC, para quem se incomoda) a melhor coisa que pode haver.
Estava lendo o clássico do cancioneiro futebolístico “o Moleque e a Bola”, publicado em 98, durante a Copa da França, no “O Globo”. De algo tão trivial quanto a relação entre o moleque pobre e a bola de futebol (seja um coco, um ovo, uma laranja ou uma bola de capão) ele extrai tamanho lirismo que (não tenho outra palavra) me bestifica.
Eu tenho uma relação complicada com os artistas que admiro. Sinto como se os conhecesse por meio de sua arte e acabo buscando mais deles nas fontes disponíveis. Me peguei seguindo o Max Lucado no Twitter só por que os livros dele são maravilhosos. Até mandei mensagem em português (que ele entende) prá ver se consigo a atenção do rapaz.
A internet possibilitou esta interação mais próxima com nossos (odeio esta palavra mais que tudo) ídolos (não... não coloco o Danilo Gentili em um pedestal, apenas admiro a velocidade de raciocínio dele). Blogs, sites, vídeos no youtube, Orkut, comunidades virtuais e, agora, o Twitter. Recursos, formas de estarmos mais próximos daqueles que sentimos que podem nos passar algo, nos agregar conhecimento.
Eu procuro estar o mais próximo possível daqueles que me ensinarão algo. Quero que aqueles que querem aprender de mim também estejam ao meu lado, pois sei o valor que o aprendizado tem para a vida.
“Ídolos” (eca!) são pessoas que nos ensinam por meio de seu exemplo e vivência. Por meio daquilo que escrevem, pintam, desenham, cantam, fotografam. Hoje vou postar uma listinha de dez pessoas que influenciaram muito minha vida.

Chico Buarque – Artista competente, pensador sagaz.
http://www.chicobuarque.com.br/

Max Lucado – Autor profundo em sua simplicidade. Sem palavras
http://maxlucado.com/

Renée Maggritte – Sensibilidade para representar o real de forma irreal
http://www.magritte.com/

Henri Cartier-Bresson – De seu olho saltam momentos mágicos para cada um de nós
http://www.henricartierbresson.org/index_en.htm

Marisa Monte – voz de chuva que cai devagar no limiar da porta
http://www2.uol.com.br/marisamonte/site/abertura.htm

Tom Jobim – Passarim passarando no canto dentro de mim
http://www2.uol.com.br/tomjobim/index_flash.htm

Vinícius – elementar para entender quem sou
http://www.viniciusdemoraes.com.br/

Manuel Bandeira – delicadeza daquele que não era um bicho... meu Deus, era um homem!
http://www.astormentas.com/bandeira.htm

Leon Eliachar – O “Cairioca” que fez cócegas em meu raciocínio
http://www.releituras.com/leoneliachar_bio.asp

Brennan Manning – Pela graça conheço a graça!
http://www.mundocristao.com.br/autordet.asp?cod_autor=147

Não coloquei aqui as pessoas que conheço, com quem convivo e que são os melhores exemplos para mim. Estou postando aqui pessoas que podem te influenciar de alguma forma, esteja você onde estiver. Estes “artistas”me ensinaram algo em algum momento, e desprezar a sua importância para minha vida seria, no mínimo, displicência.
Ainda estou bestificado com o texto do Chico. Já conheço muitas coisas dele, mas este texto é muito limpo. Procurem, pois vale a pena.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Momento Mágico












(clique no título para ouvir a música)
(clique na foto e conheça a fundação Cartier Bresson)
(Foto de Henri Cartier Bresson, aquele que resume o que é momento mágico)

Sou cinegrafista há alguns anos e venho filmando eventos sociais e, por isso, tenho visto muita gente em seus momentos mais felizes. Não faço pelo dinheiro, que é pouco, mas pelo prazer de ver o sorriso de um noivo, uma lágrima no rosto de uma mãe, as mãozinhas de uma criança estendendo seus dedos e dizendo, ali, quantos anos está fazendo. Esta mágica, presente nestes momentos, me faz ver o quanto vale a pena viver.
A vida não é feita de felicidade eterna, nem de eterno tormento, mas de um mix com estas duas pontas e um monte de outras coisas no meio. Alegrias, surpresas, amizades, sentimentos, mortes, perdas, derrotas e vitórias, misturadas e entregues em nossas mãos. Quando bebemos a vida, não sabemos o que virá, mas podemos prever que o sabor final pode ser bom.
Registrar as pessoas em seus melhores momentos é uma oportunidade única de olhar para a felicidade dos outros em busca da sua. Me deixa feliz ver um noivo apaixonado, esperando, ansioso no altar, pelo seu objeto de desejo. Suas mãos transpiram, seus olhos não param, seus pés balançam em uma dança alegre de quem não sabe dançar.
Da mesma forma, a mãe que carrega seu filho nos braços para trás da mesa decorada, cercada por amigos cantando os melhores desejos para a criança. Para todos nós, “é pique!” perdeu um pouco do valor, mas para crianças é algo especial.
Estive em um casamento no sábado passado. Casal apaixonado, convidados felizes. Parecia uma festa como outra qualquer. Aí colocaram para tocar uma música especial para o casal e para os amigos.
Algumas imagens deveriam passar em câmera lenta diante dos nossos olhos para que pudéssemos captar sua mensagem de forma mais clara, mas não. Quando a música tocou, era como se crianças avançassem para a pista de dança, correndo entre cadeiras, avançando entre os outros convidados, pulando, sorrindo, cantando junto. Todos em uma mesma sintonia.
Tive uma súbita impressão de infância lembrada, momento mágico, coisa única, como se algo perdido no passado fosse reencontrado. Algo como quando jogo um io-iô e vejo algum sentido em minha vida quando ele desce e sobe em velocidade vertiginosa (era a única coisa que eu sabia jogar quando criança). Como se, voltando ao tempo da infância, encontrássemos o ar necessário para conseguir respirar no meio do mundo dos adultos.
Enquanto Billy Paul cantava, aquelas crianças grandes pulavam ao som do seu ôôôô recordando outros tempos. Para outros convidados aquilo não fez diferença, mas para eles, era um momento único.
Cartier-Bresson resume em suas imagens o que é o “momento mágico”, aquele milésimo de segundo que ficará registrado eternamente no nitrato de prata sobre o papel (por isso a imagem, um dos melhores retratos da infância que eu já vi). A revelação que tive naquele momento é a mesma de quando jogo iô-iô: carpe diem! Aproveite a vida enquanto a tem! Deus nos colocou neste mundo para sermos felizes, completos, plenos, cheios de vida e significado. Momentos como este se revestem de significado especial, e, enquanto virem o DVD, aqueles noivos e aqueles amigos lembrarão de cada momento mágico daquela festa, e cada sensação que lhes vier à memória me deixará deveras feliz por conta do resultado alcançado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Contratos com Deus


A capa da controversa "revista"


Acho que já deu prá notar por alguns posts abaixo que sou fã de quadrinhos. É uma paixão que trago da infância.
Pois bem. Lendo tranquilamente o
www.omelete.com.br me deparei com a notícia de que tem gente reclamando da inclusão de um livro do grande autor Will Eisner (que, junto de Alan Morre e de Frank Miller forma a santíssima trindade dos quadrinhos adultos) nas bibliotecas públicas escolares em São Paulo e Paraná.
Eu leio Eisner desde criança. Spirit me iniciou nos quadrinhos, Fajin me mostrou o universo dos quadrinhos adultos e outros trabalhos dele sempre se mostraram tocantes e profundos no que diz respeito a algo que os quadrinhos, até a chegada dele, não valorizava: a representação da realidade.
Acompanhei a polêmica sobre outro livro que também cortaram, a coletânea brasileira “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”, para cujo corte eu dou total apoio e respaldo. Esta coletânea tem como objetivo e propósito ser um livro de humor, e não trazer qualquer esclarecimento acerca do futebol. As palavras de baixo calão entram despropositadas, como em uma conversa de bar, o que não se encaixa no ensino acadêmico.
“Dez na área” não é um livro que se pode considerar “didático”, diferente de outras obras, como “Persépolis”, de Marjani Satrapi, que fala sobre a ascensão do regime Xiita no Irã no final do século XX, ou “Maus”, de Art Spiegelman, que recebeu um Pulitzer contando a história do pai do autor, judeu, preso em um campo de concentração. “Dez na área” não pode estar em prateleiras escolares, apesar de ser uma grande obra escrita por brasileiros, com humor, vezes refinado e vezes escatológico e raríssimo senso de propósito, mostrando como nosso amor pelo futebol se mistura com a vida.
O livro de Eisner, “Contrato com Deus”, não se encaixa neste viés. Quem conhece a verdadeira literatura de quadrinhos sabe que este é um título marcante para a história da arte seqüencial e sabe o quanto a narrativa contundente e precisa pode ser esclarecedora acerca de fatos, que acontecem em nosso país.
“Contrato” não finge que o mal não existe. Ao contrário, nos confronta com ele, mostrando o quanto nós mesmos somos sujeitos a executa-lo. Eisner não justifica, nem tenta proteger os profanadores da pureza. É com crueza e seriedade que mostra, sim, cenas fortes, que, infelizmente, muitas de nossas crianças estão cansadas de ver em suas casas.
O fato é que, contando uma história, Eisner fatia o coração dos leitores por expo-los a personagens que imaginamos ser bons, mas descobrimos repulsivos.
Fico triste que esta dualidade não interesse aos educadores brasileiros, que sempre valorizaram obras como “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo, ou “Dona Flor e seus dois maridos”, de Jorge Amado, onde cenas de sexo são descritas de forma clara e aberta. Interessante que li “Lolita”, de Vladmir Nabokov pela primeira vez em uma biblioteca pública.
São as imagens que incomodam? Liguem suas TVs à noite. Vejam as novelas que tratam de “assuntos atuais” e digam-me que Eisner continua sendo impróprio.
Fico triste ao ver o moralismo exacerbado de certos irmãos querendo discutir o que não conhecem. Eu posso falar de quadrinhos. Eu os leio desde sempre e não deixei de Le-los por conta de Jesus.
Nossos líderes foram queimados por Judeus nos primeiros séculos. Fomos perseguidos pela inquisição anos depois. Tivemos nossos livros queimados em praças na Alemanha nazista, fomos rejeitados, rechaçados, afastados, chutados, humilhados, cuspidos e censurados por onde passamos. Hoje, sendo aceitos pela sociedade, a única voz que temos é a daqueles que censuram, humilham, rechaçam, refugam, chutam (literalmente) e cospem com o mesmo vigor com que sofreram tais perseguições.
É pena. Perdem por não querer crescer e aprender. Eu não tenho vergonha de ser crente, mas de, infelizmente, ser comparado a alguns destes “personagens” interessantes que temos no mundo gospel. Nossa irrelevância neste mundo chegou a níveis tais que somos mais motivo de chacota, por nossas “excentricidades” do que de crítica por nossos posicionamentos. A solidez dos argumentos de alguns de nossos “porta-vozes” pode ser comparada à espuma do mar, ou ao vento que sopra. Quase igual a zero.
Leiam Eisner antes de falar dele. Não critiquem o que não conhecem. Quadrinhos são arte, como literatura ou cinema, e a arte é a livre expressão da realidade que nos permeia, interpretada pelos olhos daqueles que a vêem.
Cristãos, cresçam e lutem por causas que valem a pena, pelo amor de Deus.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Retrato em Branco e Preto


Descubra se é daltônico: tecle no título e faça o teste.


Domingo descobri que sou daltônico. Na verdade foi mais uma constatação de algo que eu já sabia do que uma descoberta.
Teoricamente, eu deveria ficar chocado com esta realidade, afinal, tudo em que trabalho vai cor, e não enxerga-las limita meu campo de ação. Sem as cores certas, as imagens de uma filmagens ficam irreais, um layout de jornal fica desigual, um logotipo perde a coerência.
Porém, sempre consegui compensar isso, pois sabia que meus olhos não eram confiáveis no que tange a ver as cores de forma correta. Minha limitação é pequena, está nos verdes, cinzas, azuis e lilazes, que não consigo discernir com facilidade, mas está nas cores fundamentais, o que complica bastante meu trabalho.
Aprendi a não confiar em meus olhos. Quando bato o branco em uma câmera, quando escolho um azul em uma paleta de cores, sei do risco que corro de estar vendo uma coisa e avaliando de outra forma. Nesta hora confio em meu cérebro e em algo que vai muito alem da capacidade de olhar: a capacidade de crer.
A capacidade de crer em mim mesmo é derivada da confiança que Deus tem em mim. Se Ele permitiu que eu trabalhasse com cores, sabendo que eu ia desenvolver este problema, é por que ele sabe que eu ia encontrar um caminho para compensar tal deficiência. Compenso nas outras cores.
Quando temos diante de nós parâmetros pessoais nos quais não podemos confiar, temos que buscar outros parâmetros em que podemos confiar para conseguir enxergar o problema e buscar uma solução. Em meu caso, o parâmetro que eu conheço é o vermelho.
Na vida é igual. Se, em algum lugar, eu tenho um parâmetro em que não posso confiar, quer seja comportamental, social, psicológico, espiritual, preciso mudar o foco e saber, por outros parâmetros, se o que estou fazendo é certo ou errado. Uma atitude que não enxergo como pecado, mas que o é, se eu olhar outra pessoa fazendo, por exemplo. O parâmetro usado para os outros é diferente dos que uso para mim mesmo.
E não adianta dizer que é mentira, por que não é. Usamos nossa “daltonia espiritual” para não vermos a cor do pecado que cometemos. Usamos “daltonia social”, para não vermos o quanto machucamos nossos pares. Usamos “daltonia psicológica” como desculpa para traumas que insistimos em carregar por autopiedade. As cores dos nossos erros são mais preto e branco para nós do que as cores dos erros dos outros.Onde você é daltônico? Ou até míope, quem sabe. Analise sua vida por outro ângulo. Encontre seu vermelho para saber quais são os parâmetros que podem mudar a sua vida.

sábado, 6 de junho de 2009

Rei Morto, Rei Posto

Steve Rogers Morto em 2007


Uma das coisas que eu gosto nos quadrinhos se chama maniqueísmo. O mundo simplificado de forma a o entendermos claramente. O bem é o bem e o mal é o mal. Entendemos isso se apenas olharmos os quadrinhos.
Como esta nunca foi uma arte com o objetivo de mimetizar o mundo real (homens voam, alienígenas existem, alô!), mas sim criar um novo universo de possibilidades e, possivelmente, explicar nossa existência por meio de mitos, os quadrinhos nos inspiram a ser melhor do que somos e a buscar a essência do verdadeiro heroísmo.
Vejamos algumas personagens que eu sempre gostei. Super-homem e Capitão América. São, possivelmente, os mais odiados nos dias de hoje, graças ao ódio anti-americano que tomou o mundo (azar o das outras nações que abaixaram suas calças para o Tio Sam no passado e agora não podem lidar com isso). São meus heróis favoritos, pois representam valores incorruptíveis, como lealdade, superação, dedicação, entrega.
Kal-el é enviado à terra com o objetivo de inspirar a humanidade a ser mais do que é. Ele representa tudo em que podemos nos tornar e muito mais. Kal-el está sempre um passo à frente da humanidade, não a deixando para trás, mas puxando-a consigo, avançando junto de nós.
Steve Rogers era filho de um alcoólatra que viva na cozinha do inferno em Nova Iorque e, por meio de um experimento do governo, ganhou superforça, agilidades, etc e tal (o pacote completo menos a capacidade de voar). Com um uniforme azul e um escudo de metal ele invadia os campos de batalha e participava das grandes lutas contra a Alemanha durante a segunda guerra mundial. Suas cores representavam os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade presentes no iluminismo, na revolução francesa e nas cores da bandeira americana. Sua imagem patriótica extrapolava os símbolos nacionais. Ele era um símbolo em si.
Por representarem muito mais do que eram, na realidade, e por terem sido usados como veículos para um sistema opressor, seu valor foi se perdendo ao longo do tempo, mas todos gostaríamos de ver heróis assim no mundo real.
Tenho princípios e não abro mão deles. Não tenho um escudo, nem vôo mais rápido que uma bala, mas acredito em Deus, pátria e família, e podem me chamar de conservador que eu não ligo, tenho certeza de minha fé e de minhas convicções.
Mas o fato com os super-heróis é que eles representam nosso ideal e nosso objetivo. Compramos gibis para lermos histórias que gostaríamos que acontecessem conosco. Quem não gostaria de ter superforça? Ou quem não ficaria feliz em ler o pensamento dos outros?
Porém, tenho visto o perfil de herói mudando aos poucos. Um pouco por causa do envelhecimento natural dos leitores de quadrinhos (uma nova geração não foi formada nos anos 90, então os leitores ainda são os mesmos dos anos 80) e um pouco por causa da desilusão com os valores que falei acima. Grande parte da população deixou de acreditar em Deus (ou em uma força externa que vem resolver nossos problemas, venha de kripton, ou venha do céu), as pessoas não valorizam tanto a família (um bem que um certo cabeça de teia valoriza bastante) e poucas pessoas acreditam nas nações e em sua soberania (olha os EUA aí de novo...)
Cada vez mais os heróis tradicionais estão dando lugar a anti-heróis cujos valores são ambíguos e egoístas. Valores como egoísmo, sexismo, rancor, vingança e violência são passados para os leitores de forma cada vez mais clara. Os quadrinhos perdem sua aura de reflexo de desejos e passa a assumir uma cara de reflexo da realidade.
Nesta busca por refletir a realidade, mataram um mito. De forma absurda (um atentado a bala), mataram o Capitão América. Steve Rogers jazia no chão, na frente do congresso americano graças a um tiro de uma pessoa inesperada.
A morte do mito, a queda do “Sentinela da Liberdade” é um símbolo enviado pela editora dizendo que os tempos são outros, que os mitos que acreditávamos que poderiam representar nossos melhores ideais morreram e que é hora de encararmos a realidade com os olhos humanos.
Não à toa, a editora do Super-Homem o enviou definitivamente para fora da Terra. vivendo em outro planeta desde que Lex Luthor o envenenou com uma carga imensa de raios solares, o alter ego de Clark Kent como que deixou o mundo na mão dos humanos, subindo aos céus no meio das nuvens (parece alguém para você?)
Pois é... o super sempre foi um mito que remeteu à bíblia sagrada. Jerry Siegel e Joe Shuster eram judeus e criaram o herói que foi enviado em uma “cestinha interplanetária” para libertar a humanidade de todos os males que a aprisionam.
Nossos heróis nos deixaram e sentimos sua falta. Não por que não estão mais nas paginas dos gibis, mas por que, em nossos corações, já não há mais espaço para eles, e, infelizmente, sabemos disso. O mundo não é o mesmo, onde o maniqueísmo é possível.
Mas, na mesma velocidade com que morrem, heróis renascem e ressurgem das próprias cinzas, assim como valores. Em momentos de crise precisamos de símbolos em que possamos nos apegar, âncoras que possam deixar-nos mais seguros. Obama é um destes símbolos, dizendo que a mudança é possível, lutando, como super-herói, para conseguir manter unido um planeta de pessoas que pensam tão diferente, mas que têm os mesmos ideais.
Lindo pensar que o Capitão América pode ressurgir. Diferente de nós, os heróis não tem as limitações que nos são comuns e isto nos faz olhar para eles com esperança de que um novo nascer, uma nova chance nos é dada também.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Será que vocês podem me perdoar?


Desculpem por ser honesto, mas faz parte de mim não conseguir esconder o que sinto. Desculpem, também, por não ser claro. Os pensamentos não se desanuviam em minha mente com tanta facilidade quanto na sua. Não sou sempre compreensível. Me expresso muito melhor no papel do que na palavra.
Me desculpem por escrever tantas coisas que parecem heresias, mas que na realidade não passam de fruto de um relacionamento íntimo demais com meu Deus, de forma tal que tento me confundir com Ele o tempo todo (Eles um em mim, como sou um em ti)
Especialmente no que tange às diversas formas de amor, peço desculpas por ser mais tolerante com os que amam errado do que o normal. É compreensível que vocês me censurem por ter um coração grande demais, afinal, em uma visão limitada de mundo, só há espaço para os que são iguais e se vitimam em busca de atenção.
Perdão por gostar dos Beatles, e de Rita Lee também. Desculpem por ler Rousseau, Sartre, Descartes e perdão por amar a verdadeira interpretação das palavras de Nietsche. Deus morreu no coração dos homens, que preferiram erguer novos mitos para idolatrar. O “Super-homem”. Não consigo adorar homens, mas respeita-los. Não consigo apenas respeitar Deus, mas adora-lo em espírito e em verdade.
Mil perdões por eu não me adaptar à sua visão pequena de igreja. Não consigo me imaginar confinado em um cubículo para sentir a presença de um Deus que se manifesta onde quer. Respeito a instituição, mas não acredito que, em si, ela tenha muito valor. Com todo respeito, preciso discordar de sua aritmética ministerial, que privilegia meia dúzia de bajuladores em detrimento de pessoas que estão interessadas em beber de águas vivas que fluem do trono de Deus, e não de homens. Perdão se não concordo estupidamente com seus argumentos e sua falácia vazia. Não me agrada a voz doce, mas a Palavra da Verdade.
Acima de tudo, perdão por acreditar em um Deus que extrapola a sua e a minha compreensão. Perdão por que eu vejo o impossível nas pequenas coisas e gosto de ouvir, no silêncio e não na gritaria a voz de Deus e encontrar-me com ele na solidão e não na multidão.
Perdão, do fundo do meu coração, por confessar-me pecador. E mais perdão ainda por eu não ter vergonha de admitir minha séria e inexorável condição diante das pessoas, em um altar. Nu vim a este mundo e nu quero deixa-lo. Sem segredos, sem o que me esconda de Deus, sem o que me afaste da presença dEle.
Perdão por acreditar na evolução das espécies. Sei que não viemos do macaco, mas eu acredito em um Deus criativo que nos deu a capacidade de evoluir até alcançarmos a estatura de varão perfeito, que é o que Ele quer. Eu sei que é difícil, mas desculpe, também, por concordar com o Big Bang, a explosão que gerou todo o universo. No princípio a terra era sem forma e vazia e Deus fez tudo do nada, em uma explosão de amor.
Perdão por não acreditar em suas profetadas e suas palavras sem significado. Eu sei que Deus tem grandes bênçãos para mim. Bem sei que a Palavra de Deus é a melhor profecia que posso ouvir na vida e que é esperança para todo aquele que nEle crê. Argumentos, idéias vagas e pressupostos não são a palavra de Deus. Porém, uma arguta e direta interpelação, sim, por esta tenho respeito.
Perdão por não ver pecado em todos os pecados que você vê. Não sei se você entende, mas Deus está dentro de mim, e não nas roupas que visto, ou na comida que como, ou no dia que descanso. Deus transcende a realidade humana, não emana dela.
Peço, humildemente, perdão por pensar que o evangelho tem mais significado do que simbolismo e que a humanidade precisa mais de Deus do que Ele precisa dela, e mesmo assim, despretensiosamente, ele a ama como um louco. Desculpe por chamar Deus de louco, mas a sua loucura extrapola a nossa razão.
Peço perdão por não acreditar em obras como forma de salvação, mas valoriza-las como demonstração de gratidão ao nosso Deus, que fez a obra perfeita na cruz do calvário, salvando-nos e levando-nos ao reino da sua maravilhosa luz. Perdão por permitir que minha gratidão a Deus se exponha por meio destas obras. Eu sei que isso expõe o pouco que você ridiculamente finge fazer por Deus dentro de suas quatro paredes chamadas igreja institucional.
Peço perdão, por fim, por não ter certeza acerca de minha salvação, e por busca-la com temor e tremor dia após dia, lutando contra a carne, contra o mundo e contra demônios para me aproximar mais e mais do meu Criador. Perdão por querer parecer com Ele, e não com qualquer um de vocês.
Será que vocês podem me perdoar?

quarta-feira, 4 de março de 2009

Que graça teria a vida sem sorvete?


Em um dia de calor absurdo como hoje (39º aqui no centro de Santos), nada como um bom sorvete de pistache descendo ardido na garganta. Como poderia não dizer “que graça tem a vida sem sorvete?”
Sorvete é uma coisa que, em sua essência, faz um mal danado. Pura lactose, gordura e açúcar, o rei dos doces dos gordinhos, o pesadelo dos atletas (como podem ter criado algo tão bom!) ele armazena em si um exército de lipídios prontos para tomarem de assalto o corpo daquelas beldades que evitam a celulite como o diabo evita Jesus.
Mas não adianta, diante de uma casquinha saborosa só podemos dizer “venha, celulite! Pode vir! Eu não vou perder o prazer pela vida por que dizem que você faz mal!”
Temos a liberdade de escolher as celulites guardadas dentro de um sorvete de creme (ou limão, dependendo do gosto). Isto é um presente de Deus chamado “Livre Arbítrio”: a capacidade de escolher, ponderar sobre assuntos, a capacidade de pensar de forma independente e, acima de tudo, livre.
Liberdade de tomar um sorvete no calor de quase quarenta que faz lá fora, mesmo eu estando acima do peso. Liberdade de escolher a minha esposa, que Deus colocou no meu caminho e disse “vamos ver no que vai dar”, mesmo sabendo que nós seríamos felizes para sempre.
Não creio em predestinação, mas em preciência de Deus. Como se ele soubesse do que vamos fazer, mas esperasse que o surpreendêssemos o tempo todo. Afinal, não tem graça nenhuma pensar que você foi escolhido para ir ao céu ou ao inferno antes mesmo de saber escolher, e que suas atitudes e ações são reflexos de uma programação anteriormente inserida em sua mente, como na música da Pitty. (selecione o título do post)
Descobrir que somos um hardware carregando um software pré-programado me desestimulou durante muito tempo. Vi a escolha do meu sabor preferido de sorvete (pistache) como um reflexo, e não como uma escolha consciente e deliberada. E tenho visto pessoas vendendo a imagem de que nós não temos opções e que, como não sabemos qual a nossa programação, devemos agradecer por cumprir nosso papel.
Fios presos às nossas articulações, como em marionetes, nos mantém erguidos, de pé, andando para onde o sistema quer nos levar. Bonecos, massas de modelar permitindo que outras pessoas tomem decisões em nosso lugar. Fantoches seguindo conforme o status quo, querendo “aquela blusa”, “aquele tênis”, “aquele carro”. E por que permitimos isso?
Uma frase, um tempo atrás, me intrigou. “liberdade é conhecimento. Você não pode dizer que escolheu o sorvete de limão se você só conhecia este sabor”. Sem saber o sabor dos outros sorvetes, não há como dizer se gosto ou não. A consciência só vem com o conhecimento, e como diria Freud “Só o conhecimento traz o poder”.
Que poder é este de que estamos falando? Quebrar as correntes que nos prendem à predestinação, romper as cordas que nos mantém suspensos e passar a caminhar com nossas próprias pernas, escolhendo, chegando a conclusões, decidindo.
A predestinação é um conceito falho em sua essência, pois contraria o fato de que Deus quer que escolhamos, por nossa própria vontade, ama-lo. Se assim fosse, Ele saberia das nossas escolhas e das nossas tendências, e tomaria a decisão por si mesmo. isso seria o ato de um Deus cruel, que privilegia uns filhos de sua criação em detrimento de outros.
Ele sabe as nossas escolhas? Creio que sim. Agora, mais por conhecer as nossas tendências do que por predestinação, em minha opinião.
Sei que isto é um tópico bastante polêmico e que eu estou sugerindo um paradoxo, mas é como acreditar na evolução das espécies mesmo sendo cristão, ou no Big Bang. Basta que a interpretação seja feita da forma correta.
Eu imagino Deus se divertindo com a sua obra, compartilhando do seu crescimento e de suas adaptações. Vejo o Criador como um capacitador dos seus filhos, mostrando para eles o seu infinito amor por meio das escolhas que eles podem fazer. Imagino a grande explosão de amor bilhões de anos atrás, quando a “terra era sem forma e vazia”, mas no coração de seu Criador era um planeta cheio de vida.
Eu imagino tudo isso e isso não fere a minha fé. Ao contrário, a fortalece mais ainda. Deus nos ama tanto que nos deu a sua característica mais marcante, nos fez vivenciar, por meio da capacidade de escolher, um pouco do que Ele mesmo é: um Deus senciente e consciente, capaz de tomar o lugar de sua criação e fazer a escolha mais difícil: experimentar a morte para dar a vida.
Costumo dizer que carregamos em nosso interior uma fagulha do imenso poder de Deus. E esta fagulha é o bastante para vivenciarmos toda a sorte de experiências maravilhosas proporcionadas por nosso criador. Ter consciência de que somos o receptáculo desta bomba nuclear capaz de construir um universo de possibilidades nos faz melhores. Saber como usar este poder, então, isso sim é evolução.
Afinal, o que seria da vida sem escolhas? O que seria da vida sem sorvete? Talvez amanhã eu mude o sabor preferido e saber que esta escolha foi conseqüência de um ato deliberado e não de uma programação previamente inserida em meu mainframe me faz um pouco mais parecido com o que Deus espera que eu seja: um ser senciente e consciente, que conhece os sabores dos sorvetes da vida, mas escolhe um sabor como preferido, por que é o que mais agrada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Todo Carnaval tem seu fim


Antes de qualquer coisa, feliz 2009, Brasil! Este país, assim como os Judeus, os Muçulmanos, os Incas e os Chineses, tem épocas de início de ano diferentes. Aqui, é sempre no final de fevereiro, após as festas pagãs do carnaval.
Começamos o ano agora e ninguém mais lembra do que aconteceu no hiato que é o mês de janeiro. Na escala brasileira de tempo, o ano é composto de dez meses, com um intervalo de um mês e meio entre um ano e outro.
Este intervalo prejudica demais nosso país, comprometendo, desde a produção, até a formação de nossas mentes pensantes. Desde cedo, ainda na escola, a mentalidade do gosto pelo feriado é alimentada.
Diferente do resto do mundo, não gostamos de ter que ganhar dinheiro, nem de ter que aprender, nem de ter compromissos. Somos livres, leves e soltos, filhos da cruza entre Macunaíma e algum político alagoano, ou maranhense de vastos bigodes.
Pois é, brasileiros e brasileiras... 2009 está aí, começando agora. E aí? O que vamos fazer? Esperar 2010 chegar, de braços cruzados, olhando a crise passar na avenida do mundo, ou vamos tomar parte do desfile, mostrando a nossa cadência (ou decadência, não sei bem), tentando, ao ritmo alucinado dos passistas de carnaval, tirar alguma vantagem das dores do mundo?
Pandeiro em riste, o brasileiro é o eterno malandro, continuamente forçado a descansar pelas vicissitudes da vida. Só em 2009 são mais de 10 feriados em sextas-feiras e sábados. Mais desculpa para estendermos as redes da miséria sobre a possibilidade de crescimento.
A verdade é que o tempo passou na janela e nós, Carolinas, não vimos nada. Preferimos fofocar a crise alheia a ver aquela que estava bem dentro de nosso Brasil: a crise de caráter que há anos nos assola. Ou o país acaba com a saúva ou os políticos superfaturam o serviço de dedetização.
Deixa eu brincar de ser feliz? A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval, como diria o poetinha. Orfeus encantados com os grandes adereços e as imensas bundas artificiais em uma festa artificial, de pessoas vazias correndo as ruas a procura de satisfação que não existe, se iludem e se acabam no período em que reis gordos governam nosso triste país.
A tristeza deles não tem mesmo fim. Quando paramos e pensamos que os arlequins, as mulatas, os mestre-salas, as porta-estandartes, reis momos e rainhas de baterias só existem por três dias, mas imperam em nossos corações durante um ano inteiro, vemos o quanto permitimos que nossa felicidade se desvaneça em uma ilusão à toa.
Portanto, brinquem, sapateiem, pulem, bebam, beijem na boca, como diz a música. E depois, voltem para suas vidinhas medíocres e sem significado, com os narizes pintados de cor da pele, pois a verdadeira cor (o vermelho, dos palhaços que são) precisa ser camuflada pelo engano de si próprio.
Para os que, como eu, não gostam do intervalo de um mês e meio, vamos continuar de mangas arregaçadas, esticando nossas mãos à procura do trabalho sério que este país precisa que seja feito. Aos que esperaram a banda passar, continuem aí, cantando coisas de amor. Quando a festa acabar, quero ver quem vai limpar os confetes e as lágrimas do chão.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Medo de Deus

O Jesus do SBT, que dava medo para as crianças. Até hoje sinto calafrios.
para vê-lo em ação, clique no título do post.

Meu relacionamento com Deus sempre foi muito oscilante. Não por que Ele me deixasse à míngua à espera e algo que não podia me oferecer. Ao contrário, sempre me supriu de forma sobrenatural, e é necessário, para me entender, entender que sou cristão, evangélico e que esta é uma das poucas coisas sobre as quais eu tenho certeza, assim como meu casamento.
Deus me tomou quando eu era criança ainda, mas eu não quis ceder. Nossos primeiros encontros foram marcados pelo medo. Em minha casa havia um crucifixo de bronze que ficava pendurado sobre a porta da cozinha sobre um fundo de madeira. Em minha criativa infância eu imaginava que Jesus sairia da cruz e viria me pegar. Sempre o imaginei saindo pela porta da cozinha, vestindo uma roupa branca, toda ensangüentada, com as mãos furadas e gritando “foi você que me feriu, e eu vim te pegar!”
Nas missas, quando o padre falava “Jesus está aqui”, eu o imaginava surgindo ao meu lado, com as mãos furadas e os olhos tristes das imagens de gesso que povoavam as capelas campineiras para me assustar. Ficava olhando em volta à caça de seus olhos marejados, dos cabelos castanhos longos e as barbas bifurcadas (influência de alguma época artística onde esta característica era valorizada).
Os filmes sobre a paixão, não os conseguia assistir. Não conseguia passar pela tortura de ver Jesus sofrendo as agruras que estava sofrendo ali, diante de meus olhos. As chagas das mãos sempre me deram medo. Talvez por que eram as mais destacadas e por que eu sempre imaginava minhas mãos sendo perfuradas por grandes pregos. Medo, em minha infância, foi um sentimento muito presente.
Quando disse que Deus me tomou quando eu era criança, foi bem criança mesmo. Um vizinho que morava em meu prédio, Sebastião, discípulo sediado na Primeira Igreja Batista de Campinas, levava a mim e às outras crianças do prédio ao Mcdonalds. Porém, antes de irmos à fatídica lanchonete, passávamos algum tempo no culto do ministério que ele freqüentava. Deus começava a desenhar ali o que viria a ser a minha salvação. Seu projeto não parou, apesar de eu procurar me desviar dele (tentativa inútil) Ele nunca desistiu.
Conforme envelheci, comecei a descobrir que a imagem que fazia de Deus era baseada em uma visão errada de quem Ele é realmente em minha vida. Pensava em um Deus punitivo, quando, na verdade, era um Deus cheio de amor que olhava para mim do céu. Enquanto eu pensava em julgamento, ele pensava em piedade. Se eu tinha em minha mente “punição”, ele oferecia consolo e abrigo.
Abri meus olhos para quem Deus é realmente. Não uma imagem de rosto agonizante presa em uma cruz, mas Aquele que venceu a morte e atravessou os séculos ensinando sobre seu amor e sobre a obra que quer fazer em nossas vidas.
Na escola, as imagens em feltro presas sobre um cenário bonito me ensinaram sobre o pecado de Adão, e sobre como todos nós somos sujeitos ao pecado. Havia em minha classe uma menina japonesa budista e quando tínhamos aulas de religião ela saída da sala. Alguns professores não gostavam disso, mas creio que o respeito ao credo alheio só fortalece a sua fé em seu próprio credo.
Billy Graham, quando interpelado por Woody Allen em uma entrevista para este em um programa de TV, respondeu a uma provocação do cineasta “Billy, vou te converter ao ateísmo”. “Você pode tentar, conversar com você só fortalecerá ainda mais minha fé”.
Nem todo mundo, quando desafiado por uma mente arguta, consegue manter seu argumento de pé. E não estou falando de estudo contínuo da Bíblia, de forma cansativa e exaustiva. Uma simples leitura diária, calma e descompromissada, nos mostra as respostas que procuramos muitas vezes em nossos momentos de existencialismo mais profundo.
Não minto. Não me converti por motivos nobres. Meus primeiros passos na igreja foram dados ao lado de minha esposa, que, na época, era minha namorada. Ela estava escolhendo a igreja enquanto eu ficava para trás. Para não perder a mulher que eu amava, resolvi perder o medo de meu rival e quis conhece-lo, saber quem ele era. A melhor coisa que poderia me acontecer foi escolher o embate, pois, da mesma forma que Billy Graham encarou Woody Allen, com o peito aberto, Jesus me encarou e me mostrou a infelicidade de minha falta de fé e a incerteza com que meus pés vacilantes andavam.
Jesus abriu os braços para mim e já não havia medo, mas uma curiosidade intensa, uma vontade profunda de conhece-lo, saber quem era, descobrir sua vontade para mim. Descobri que, além das chagas, havia um homem que amou toda a humanidade e que me amou e que fez aquilo por mim não por que eu o puni, mas por que Ele me amou antes de eu vir a existir.
Entender isso foi fundamental para entender quem eu era. A relação que eu tinha com Deus e com Jesus mudou totalmente. Ele está além da cruz. Ele está além do sofrimento. Ele passou por isso para que eu não passasse, mas, ao contrário do que todas as imagens que vi me falavam, passou por que escolheu isso.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Amor, Amor...


Quando amamos, muitas coisas fazem mais sentido para nós. Porém, nem tudo. O amor não é uma ciência exata, com equações perfeitas e números redondos. É mais como uma daquelas raízes quadradas com “N” casas atrás da vírgula. Casas que podem mudar tudo, e com valor tão pequeno.
Como amamos? Como escolhemos quem amamos? Para estas perguntas, sempre existe um cientista que vem com uma resposta cheia de tópicos explicando seus feromônios, seu DNA e uma série de reações químicas, além de uma lógica simplista que resume tudo à nossa necessidade de evoluir (escolhemos a mulher certa por conta da largura dos quadris, do tamanho dos seios, da cor dos olhos, etc). Ou um poeta, que vem e fala sobre uma série de sentimentos maravilhosos que tomam nossos corações diante de uma paixão voraz. Para mim, ambas respostas são incompletas.
O amor é uma união entre a razão e o subconsciente com o objetivo único de fazer com que você seja feliz. É um dos recursos que nossa própria mente mimetiza do seu Criador e faz com que nosso corpo obedeça a este estímulo. Não um estímulo químico, mas racional e subconsciente ao mesmo tempo, formando um interessante paradoxo.
Desde crianças aprendemos a gostar de um tipo de menina ou menino. Aprendemos a identificar o que é belo para nós (e isso, por ser um conceito subjetivo é derivado da criação de cada um de nós), o que é agradável. A voz, o cheiro, o sabor, as cores, etc. Aprendemos sobre coisas que gostamos de fazer e coisas que não gostamos, e tudo isso vai se tornando background para escolhermos a pessoa de nossas vidas.
Com toda esta bagagem, nós descobrimos que somos como a metade de algo que precisa ser completado. Uma antiga lenda grega diz que os seres humanos eram formados por duas metades iguais, cada uma com dois olhos, uma boca, duas pernas, dois braços e (gosto de pensar assim) a metade de um coração. Os deuses gregos teriam cortado este ser no meio, pois era muito poderoso. Por conta desta separação, passamos a vida a procurar nossa outra metade. Esta história se cumpre nos versos de Wave “É impossível ser feliz sozinho”.
Não acredito na história (o que é obvio), mas acho a analogia interessante. Duas metades procurando uma à outra. Com tanta gente no mundo é possível encontrar esta outra metade e ser feliz para sempre. Ou não.
Conheço muita gente que encontrou uma metade parecida e se finge satisfeita com isso. Não há como ser feliz assim, já que não nos completamos. O excesso de pessoas na Terra faz com que nós pensemos que uma metade parecida com a nossa possa se encaixar. Tenho ouvido muito a seguinte frase: “Se não der certo o casamento, a gente se separa”. Ou seja, as pessoas se adaptam à metade parecida até por preguiça de buscar a metade perfeita. Vemos tanta gente se desencontrando por aí que não sabemos mais se há segurança na solidão que precede o encontro verdadeiro.
Aos sábados à noite eu trabalho com filmagem de eventos sociais. Mais especialmente casamentos. Vejo, todos os finais de semana, pelo menos um casal se unindo “até que a morte os separe”. Já vi muitos padres, pastores, elderes, juízes e outros sacerdotes ou pessoas a quem o poder foi concedido falando sobre o amor e sobre a paixão. Porém, nada me fala mais alto sobre o amor do que o brilho nos olhos de um noivo esperando sua noiva no altar.
Há algo diferente quando eles levam a sério a sua união, e podemos ver isso refletido em seus olhos. Os noivos, em geral, são as molduras para as noivas, que são os quadros. Mas que belas molduras são quando estão cheios de lágrimas nos olhos ao ouvir os primeiros acordes da marcha nupcial, vendo as portas da igreja se abrir e a sua esperada surgir em todo seu esplendor. Poderia fazer diversas analogias sobre o amor de Cristo, mas não é esta a proposta, estamos falando do amor entre homem e mulher, que Deus criou para estarem juntos.
Diante dos olhos marejados, nós vemos que o amor pode fazer maravilhas. Já vi grandes homens fortes, donos de si, chorando como crianças diante de sua noiva, e eu acredito que a história do “amar-te e respeitar-te todos os dias de nossas vidas, até que a morte nos separe” é real. Eu acredito no amor até o fim, e não nestas teorias absurdas de que o ser humano pode se apaixonar por mais de uma pessoa por vez. Mentira. Amor inclui devoção, renúncia e exclusividade.
Encontrei minha metade perfeita cerca de nove anos atrás. Em um grupo de teatro, cabelos negros, sobrancelhas grossas, olhos marcantes, sorriso perfeito, ela me via como um amigo, mas eu a vi como mulher. Estamos casados até hoje e nosso amor cresce a cada dia. Há momentos tristes e momentos felizes, sim. Porém, “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade, todos os dias de nossas vidas, amando-nos, respeitando-nos até que a morte nos uma a Cristo” é real, e não me arrependo nem por um segundo ter feito este voto junto dela. Fernanda me completa, é a metade perdida por quase vinte anos. Hoje, a metade achada.

Nunca desista de buscar o amor verdadeiro. Não se entregue a qualquer amorzinho de esquina. Quando a sua metade chegar, creia, você saberá que é ele não na sua carne, pois amor não é um “negócio de pele”, mas em seu coração, que é o lugar onde você guardará este amor para sempre.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Amizade



Não sou de muitos amigos. Taciturno, dotado de um humor negro quase ininteligível não consigo agregar pessoas à minha volta. Sinto falta disto.
Sinto falta de ter pessoas me ligando e me falando da festa de tal pessoa, que seria legal eu estar lá, que seria interessante que eu fosse, etc. Nunca sou convidado para festas, confraternizações. Sou um isolado.
Minha esposa não fica atrás. Durante muito tempo ela teve a fama de anti-social. Na verdade ela, como eu, é mal compreendida.
Somos honestos demais para viver no meio da hipocrisia humana. Minha loquacidade faz com que eu não consiga ver as pessoas como elas gostariam que eu as visse, mas como elas são, e isso me desaponta.
Eu já deveria estar acostumado a isso, mas não dá. Manipuladores, vazios, os seres humanos são uma raça que não reflete a grandeza de seu Criador. Infelizmente perdemos a capacidade altruísta dada por nosso Pai. Ao longo do tempo nos tornamos egoístas e mesquinhos, sempre buscando vantagens nos outros.
Tenho uma pessoa por quem tenho grande apreço e respeito, alguém a quem eu peço conselhos quando tenho dúvidas. Nosso relacionamento, porém, é muito triste, visto que só quem se dá sou eu. Enquanto sou útil, estou ali ao seu lado. Quando não precisa mais de mim, não me procura, nem quer saber como estou.
Isso me entristece muito, pois gosto muito desta pessoa, mas me sinto constantemente manipulado pelo fato de que ela exerce uma certa “autoridade” sobre mim.
Não sou uma massinha, que pode ser modelada de acordo com a vontade das pessoas à minha volta. Tenho vontade própria, sou dotado de livre arbítrio, tenho capacidade intelectual avantajada, Q.I. estimado em 130, e isso tudo faz com que eu tenha a capacidade de ver as cordinhas que tentam amarrar em nossos membros quando querem nos fazer de marionetes.
Não posso aceitar ser manipulado. Vai contra meus princípios, contra aquilo em que eu acredito. Fui criado em um lar humanista, com pais que me ensinaram sobre liberdade e sobre como ela e a responsabilidade andam juntas, o que explica as pessoas aceitarem de bom grado as cordinhas nos membros: ninguém quer se responsabilizar por nada, logo, abrem mão da liberdade.
Nesta de não se responsabilizar, dizer coisas do tipo “eu sou assim mesmo”, “eu falo na cara”, tomam conotação de “personalidade forte” para quem fala, mas de bravata vazia para quem ouve. Qualquer um pode falar o que lhe vem à mente no momento de ira, apenas um apaziguador sabe guardar seus pensamentos para si e analisar o que acontece à sua volta com a frieza e a distância necessárias.
Sofro de um mal, quase uma doença para as pessoas que não entendem: eu me coloco no lugar das outras pessoas. Quando estão me agredindo, paro para pensar no que aquela pessoa está passando, sofrendo. O que está doendo para ela gritar de dor assim?
Este “dom”, para muitos seria muito ruim, pois teriam de abrir mão de pensamentos e sentimentos que os dominam. Não é qualquer um que consegue descarregar a bagagem das costas tão facilmente.
Como disse logo no início desta viagem, carrego comigo apenas o que preciso para a jornada que estou enfrentando. Os poucos amigos que tenho estão aqui comigo, em fotografias mentais, lembranças dos momentos (bons ou maus). Eu preciso deles para seguir. Não ao meu lado, mas dentro de mim.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


O que fazer quando nossas ações contrariam nossos discursos? Quando não somos fiéis como dizemos ser, ou verdadeiros como dizemos ser? Porém, o que é pior: o que fazer quando descobrem isso?
Ser exposto à sua verdade é horrível. Ninguém gosta de ver o quanto é uma fraude. Porém, todos nós somos fraudes ambulantes, dizendo fazer o que não fazemos, acreditar no que não acreditamos. Escondemos nosso verdadeiro “eu” para que as pessoas à nossa volta possam achar que somos melhores. Queremos ser aceitos.
Ou, pior, escondemo-nos com o intuito claro de obter alguma vantagem.
Eu valorizo a honestidade e a confiança. Valorizo a transparência nas relações com as pessoas, mas eu sou transparente? Sou totalmente honesto e digno de confiança? Quando me avalio, chego à conclusão que não sou.
Não tenho problemas de autocrítica. Ao contrário, tenho uma ponta de soberba que me impede de ver meus erros à primeira vista. Preciso ser exposto a eles para poder ser transformado.
E não sou sempre eu que me exponho. Aliás, nenhum de nós expõe o próprio erro para si mesmo. Todos nós fingimos que somos alguém que não somos e, no palco da nossa vida, o espectador que mais queremos agradar é a gente mesmo. Nós queremos acreditar no conto de fadas que nós mesmos contamos.
Preguiçoso, orgulhoso, mentiroso, presunçoso, prepotente, egoísta, desonesto, invejoso, vazio. É contra esta personalidade que preciso lutar todos os dias quando acordo. Este é o monstro que eu combato todos os dias, e não os outros. Infelizmente, em grande parte das vezes, eu perco a luta.
Diferente do que dizia Sartre, o inferno não são os outros, mas nós mesmos, que colocamos máscaras para vivermos em sociedade e somos sufocados, pois as máscaras que usamos não têm escape de ar e, muitas vezes, nem um pingo de realidade nos resta. Nem um sequer.
Jesus trata esta personalidade como “velho homem”. É a pessoa que nós somos antes de permitir que Ele tire a nossa máscara. São formas de ver o mundo e viver que não agradam ao Senhor. São características que não fazem parte da mente de Cristo.
Quando eu minto, estou indo contra minha nova natureza, por isso a minha consciência me cobra tão caro. Eu não deveria ser assim, mas “manso e humilde”, como Jesus.
Porém, não sou nem tão manso e nem tão humilde quanto deveria ser, nem tão inteligente quanto meus amigos pensam que sou, nem tão interessante quanto minha esposa me faz acreditar. Sinto-me, na verdade, como um ótimo ator, interpretando vários papéis ao mesmo tempo, esperando pelo momento derradeiro em que a cortina se fechará e eu poderei tirar a máscara e respirar o ar puro da transparência, e não o ar viciado da hipocrisia.
Porém, não acho que seja fácil assim. Confeccionei as máscaras durante toda a vida e agora fica difícil simplesmente lançá-las fora. Eu, personagem de mim mesmo, não sou, sequer, quem penso que sou. Sou uma incógnita até para mim mesmo. Uma pergunta que não sei responder.
Não sou amigo de fofocas, mas deixo meus ouvidos extremamente alertas para qualquer assunto sendo falado à minha volta. Não gosto de mentiras, mas sou o primeiro a mentir sobre diversas coisas que não sei e que, para não sujar a imagem de inteligente que as pessoas têm sobre mim, digo que sei, dando uma explicação cheia de suposições e conceitos. Não aceito que ajam com violência comigo, mas sou o primeiro a gritar quando acuado. E nunca consigo ver o quanto isso machuca aqueles que estão à minha volta.
Quero e vou mudar. Estou buscando me livrar destas máscaras, mas é como se estivessem costuradas ao rosto, prendendo-me a esta mentira sufocante que sou eu mesmo. Nem lembro mais do meu rosto aqui em baixo, não sei quem sou, ou quais sentimentos realmente me motivam, mas quero ser transparente. Até para mim ainda sou um mistério.
Agir diferente do que ajo? Não sei. Não seria isso outra máscara que me forço a colocar para parecer mais autêntico? Por isso esta viagem dentro de mim mesmo, para saber quem sou de verdade por baixo da máscara sob a qual escolhi viver tanto tempo.
Claro que há pontos onde há honestidade em mim, e não vou fechar o post sem, pelo menos, falar de alguns deles.
Perdôo com facilidade, amo intensamente as pessoas que me cercam, deixando de lado seus defeitos. Por mais estranho que pareça, tenho uma esperança infantil (quase ridícula, eu diria) na humanidade. Ponho fé na capacidade das pessoas de vencer desafios maiores do que parecem. Isto é real em mim.
Meu amor por Deus é real, meu amor por minha esposa é real, o respeito que nutro por pessoas mais velhas é real, a esperança nos mais jovens é real. Sou de uma geração errática, que nasceu entre duas revoluções. Uma social e a outra convencional (de convenções, e não comum). Somos a geração perdida dos anos 80, aqueles que cresceram entre as “Diretas Já” e os “Caras Pintadas”. A maioria de nós não faz questão de fazer a diferença neste mundo.
Mas não quero que seja assim comigo. Não. Preciso tirar as máscaras para que saibam que sei quem sou, e, mesmo que me aterrorize comigo mesmo, eu possa entender por que sou assim.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Epitáfio


Aqui jaz um homem que gostaria de ter vivido mais. Seus restos mortais já foram retirados e doados para alguém que os usará melhor, mais intensamente e com mais amor que ele. Suas memórias não ocupam sequer uma pasta suspensa no grande arquivo da humanidade e seus sonhos eram tão ínfimos que são apenas notas de rodapé nos sonhos de alguém. Morreu sem saber quem era.
Não quero este epitáfio em minha lápide quando morrer (exceto pela parte onde fala sobre doações de órgãos). Não quero viver pela metade, nem sonhar pela metade, nem amar pela metade.
Metade de nossa vida passamos nos relacionando. A outra metade, ficamos divagando sozinhos, assistindo TV, ou fazendo alguma outra coisa sem muita utilidade para a humanidade. Alguns garotos ainda passam grande parte do tempo de suas vidas relacionando-se consigo mesmos, o que é uma grande perda de tempo, mas não vou entrar neste assunto, que é delicado demais para tratar aqui.
Neste momento, estou vivendo a metade importante da minha vida. Estou me relacionando com as pessoas que lêem meu blog. Escrevendo, estou compartilhando com alguém as minhas impressões de vida, minhas idéias, meus ideais, meus sonhos. Os princípios básicos que regem o ser humano estão baseados em relacionamentos, na forma como agimos e reagimos ao outro, nosso igual.
Em meu epitáfio, gostaria de ler algo assim:
Aqui jaz um homem que viveu demais. Seus restos mortais foram doados para pessoas que ele espera que usem com tanta intensidade com quanto os usou antes. Suas memórias serão lembradas por toda a humanidade e seus feitos se tornarão lendas. Ele sorriu com os que sorriam, chorou com os que choraram, lutou ao lado dos que lutaram, e apoiou os que tinham medo de lutar. Seus sonhos transformaram os sonhos daqueles que o cercaram e ele fez diferença na vida daqueles que acreditaram nele. Ele sabia quem era. Deixará saudades para todos os que o encontraram.
Arrogância? Não. Quem não quer um epitáfio destes? Ter seus sonhos lembrados, ter seus atos cantados em canções? Vivo em um mundo meio capa-e-espada, como um cavaleiro da távola redonda, buscando salvar a donzela indefesa que é a humanidade. Às vezes me imagino em um cavalo branco, lutando contra dragões, bruxas e outros seres ainda mais vis. Na minha concepção de mundo tudo é muito simbólico.
Mas esta é uma das minhas buscas: fazer diferença de forma que, depois de eu morrer, minha foto figure em livros de história como sendo algum tipo de pessoa que fez a diferença. Posso dizer, honestamente, que parece que isto é procurar a glória própria, mas não. Não é isso que quero.
Quero ter relevância. Na estrada da humanidade, onde todos somos pedrinhas de asfalto, há pessoas que são grandes lombadas, onde os carros da memória precisam passar com mais vagar e dizer “olhem, esta lombada existe”, enquanto a maioria de nós não é mais que um paralelepípedo perdido, querendo ser aquele aclive onde todos precisam ter cuidado.
O desejo honesto de todos nós é ter relevância. Fazer a diferença, sem arrogância. Sou jornalista, sofro da síndrome de Clark Kent: quero mudar o mundo.
Talvez não cantem minhas glórias, talvez não lembrem minhas histórias, talvez meus órgãos não possam ser doados, nem meus sonhos influenciem os sonhos dos que me cercam. Mas sei que sentirão saudades de mim, e isto é fundamental para mim, como o ar que respiro. Meu epitáfio poderia se resumir à última frase: deixará saudades para todos que o conheceram.